O discurso de um Brasil em forte retomada “a despeito do que a imprensa quer passar”, como foi dito pelo presidente Jair Bolsonaro, recebeu mais um duro golpe com o resultado da Pesquisa Nacional de Domicílios (Pnad) sobre o emprego no País. Entre janeiro e abril deste ano, o País ganhou 500 mil desempregados, somando quase 3,3 milhões quando avaliados os 12 últimos meses. Os dados, que contradizem a narrativa bolsonarista de um crescimento forte da economia brasileira, podem piorar nos próximos meses. Em junho, o indicador de incerteza da economia, medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), mostrou aumento na sensação de insegurança por parte dos empresários, em função das investigações sobre compra de vacinas, inflação elevada e avanço da desastrosa reforma tributária.

Com esses temas em alta, há menos espaço para novas contratações, o que deverá pressionais ainda mais o mercado de trabalho. Um dos reflexos será o incremento no número de brasileiros trabalhando por conta própria. Entre abril de 2019 e 2021, 661 mil cidadãos partiram para essa modalidade de trabalho, ao passo que 941 mil desistiram de procurar ocupação. Outro dado recorde foi a população subutilizada (33,3 milhões), alta de 16% (ou 4,6 milhões) em um ano. Com isso, a massa de rendimentos somou R$ 212,3 bilhões entre fevereiro e abril, queda de 5,4% sobre um ano antes.

621 mil pessoas precisaram recorrer ao trabalho informal no primeiro trimestre

NADA É TÃO RUIM… Que não possa piorar. Segundo o Indicador de Incerteza da Economia, da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), a alta de 2,4 pontos em junho (para 122,3 pontos) reflete a antecipação de vários potenciais problemas futuros. Anna Carolina Gouveia, economista do FGV Ibre, diz que, além dos rumos da pandemia e da capacidade de vacinação de toda a população adulta nos prazos apresentados pelo Ministério da Saúde, a alta do Indicador foi motivada por “novos ruídos, como a possibilidade de uma crise energética e o desenrolar da CPI da Covid-19 e da reforma tributária no Congresso.”

Por estar acima dos 120 pontos, o indicador fica muito distante da normalidade (100 pontos), e antecipa um movimento de cautela do empresariado brasileiro. E por falar em normalidade, segundo o Pnad, apenas um setor apresentou aumento no número de contratações formais: a administração pública, com incremento de 3,6%.