A Companhia Vale do Rio Doce não pára de surpreender o País. Na semana passada, três notícias mostraram que seu apetite por crescimento parece insaciável. A primeira aconteceu na segunda-feira 1o. Ao alcançar capitalização de R$ 303 bilhões na Bovespa, o grupo superou o valor de mercado da Petrobras, de R$ 290 bilhões, tornando-se a mais valorizada empresa do Brasil. Lá fora, desbancou também a IBM e passou a ocupar a 31a posição no ranking global.

Nos dias seguintes, com a queda nos papéis da Vale, essa posição não se sustentou. Mas na quarta-feira ela voltou à cena com dois negócios bilionários: em Vitória (ES), assinou contrato com a gigante chinesa do aço Baosteel para a construção de uma usina, um terminal ferroviário e um porto. Investimento: US$ 5,5 bilhões, o maior empreendimento siderúrgico nacional. E, em São Paulo, arrematou em leilão a subconcessão da Ferrovia Norte-Sul (FNS), pela ?bagatela? de R$ 1,47 bilhão. ?Em termos de geração de caixa e valor de mercado, a Vale dobrou em relação ao ano passado?, comemora Roger Agnelli, presidente do grupo.

A TODO VAPOR
Trem da Vale transporta minério de ferro (à esq.). Na Bovespa, grupo arremata a Norte-Sul

A FORÇA DO FERRO
Em dez anos de privatização, o lucro da Vale cresceu 17 vezes R$ 46,7 bilhões foi seu faturamento em 2006 (aumento de 32,2% sobre 2005)

Esse conjunto de notícias reforça a estratégia da companhia nos últimos anos. Seu objetivo é ganhar escala e se tornar uma empresa integrada, atuando em todas as fases do processo, da exploração de minério até a produção de aço. Mais: quer manter em suas mãos o controle da logística, o ponto nevrálgico de sua atividade. Foi essa filosofia que a estimulou a adquirir a Inco, segunda maior produtora de níquel do mundo, em outubro de 2006. Com a operação, o grupo brasileiro tornou-se vice da mineração mundial, atrás apenas da anglo-australiana BHP Billiton.

?Por ter sido estatal, a Vale prestava mais atenção nas oportunidades do mercado doméstico. Seus investimentos lá fora eram pequenos. Isso mudou?, diz Germano Mendes de Paula, economista da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). ?O objetivo agora é diversificar- se geograficamente e ser líder em alguns corredores logísticos.?

Antes de arrematar a Norte-Sul, a Vale já detinha a concessão da Estrada de Ferro Carajás, da Vitória- Minas e da Centro-Atlântica. ?A questão da infra-estrutura está no cerne da nossa estratégia?, resume Eduardo Bartolomeo, diretor executivo de logística da Vale. ?E a Norte-Sul é o principal corredor de exportação do Brasil. Por ele, transitam não apenas o ferro, mas produtos como soja, milho, arroz e combustíveis.? De acordo com a empresa, 1,7 milhão de toneladas de mercadorias devem passar pela ferrovia em 2007, volume que subirá para 8,8 milhões até 2013. Os investimentos no novo trecho virão em etapas: entre 2007 e 2010, serão R$ 66 milhões em sinalização, oficinas e postos de abastecimento. Em seguida, mais R$ 350 milhões em trens e locomotivas.

A compra da Norte-Sul une dois casos emblemáticos da economia nacional. Um deles, o êxito da privatização da Vale do Rio Doce. O outro, a concessão da Ferrovia Norte- Sul, cuja licitação inicial, durante o governo Sarney, configurou o primeiro grande escândalo da era pósabertura política, com denúncias de corrupção e da relação incestuosa entre empreiteiras e o Estado. Como se vê, o mundo do capitalismo também dá suas voltas.