26/08/2019 - 8:00
Há seis anos, a Panasonic inaugurou em Extrema (MG, a sua primeira fábrica de eletrodomésticos fora da Ásia. A empresa japonesa investiu R$ 200 milhões na instalação com o objetivo de ganhar escala no Brasil e transformar o país em um dos seus cinco maiores mercados. De lá para cá, com mais de um milhão de geladeiras produzidas desde 2012, a filial brasileira cumpriu a meta e hoje é a terceira maior do segmento de produtos linha branca fora do Japão. Quem está por trás da estratégia vitoriosa é Michikazu Matsushita, presidente da subsidiária da Panasonic no País. Nesta entrevista à DINHEIRO, o executivo antecipa que agora, já consolidada em território nacional, a marca vai investir em novas tecnologias para tornar seus produtos mais eficientes e econômicos, além de apostar na “internet das coisas”, que conecta objetos à rede de computadores. “Existem grandes oportunidades para explorar esse novo mercado”, diz ele.
DINHEIRO – A fábrica da Panasonic em Extrema (MG) completou seis anos em 2019. O que mudou na operação da empresa com a entrada desta unidade?
MICHIKAZU MATSUSHITA – Com cerca de mil funcionários e mais de 1 milhão de refrigeradores produzidos desde 2012, a fábrica é essencial para a operação da empresa no Brasil. Essa foi a primeira fábrica de linha branca da Panasonic fora da Ásia e tem grande relevância para nós. Ela registrou o crescimento de 50% em 2018 em comparação com o mesmo período do ano anterior. Além disso, o fato de ela estar localizada próxima aos principais centros comerciais do Brasil, caso de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, também ajudou a contribuir para o nosso desenvolvimento operacional e logístico.
DINHEIRO – Naquela época, a meta era tornar o Brasil um dos cinco maiores mercados da Panasonic. A previsão foi confirmada?
MATSUSHITA – A fábrica foi fundamental para o crescimento da Panasonic no Brasil e em toda a região da América Latina. Se considerarmos o segmento de linha branca da Panasonic, o Brasil já está posicionado como o terceiro maior mercado fora do Japão.
DINHEIRO – A expectativa era de que o retorno dos R$ 200 milhões investidos na unidade chegaria em 2015. A empresa conseguiu isso?
MATSUSHITA – Não podemos divulgar ou detalhar os nossos dados financeiros internos, mas o ritmo de desenvolvimento do nosso negócio de itens da linha branca, como refrigeradores e lavadoras, excede a nossa expectativa inicial. O que posso dizer é que todo esse investimento estratégico foi muito bem-sucedido e também já foi pago.
DINHEIRO – Qual a relevância do mercado brasileiro para a matriz?
MATSUSHITA – O Brasil é definitivamente um dos mercados mais estratégicos e importantes para a Panasonic devido ao alto potencial de crescimento nas vendas de produtos e soluções para outras empresas, também chamado de B2B, e os eletroeletrônicos destinados ao consumidor final, o B2C. Temos um grande reconhecimento da marca aqui graças ao nosso longo histórico de 52 anos. Dentro da companhia, o Brasil está globalmente posicionado entre os cinco maiores países em termos de vendas de vários tipos de produtos. Na prática, isso representa mais de metade da receita de toda a região da América Latina.
DINHEIRO – Como o senhor avalia o mercado global de eletrônicos?
MATSUSHITA – Em linhas gerais, e independente de considerarmos países desenvolvidos ou em desenvolvimento, o interesse ou preocupação das pessoas está mudando. Em vez possuir ou consumir algum tipo de item físico, elas querem desfrutar da qualidade de vida real, o que inclui saúde, riqueza mental, economia de tempo, segurança, entre outras coisas. Com esse cenário em mente, nós prevemos grandes oportunidades para explorar o novo mercado consumidor. Acredito que o segmento de hardware convencional se tornará cada vez mais difícil e restrito a partir de agora. Por outro lado, os produtos que resolvem os problemas dos consumidores, somados aos aplicativos conectados por meio de tecnologia de internet das coisas, terão um enorme potencial em um futuro próximo. Em respostas à nova tendência, já estamos lançando várias iniciativas de negócios inovadores no Japão e na China, mas é claro que isso também estará dentro do escopo do Brasil.
DINHEIRO – Ainda há espaço para crescer nos segmentos em que a Panasonic atua no País?
MATSUSHITA – Sem dúvida. Prevemos uma enorme potencialidade de crescimento nos negócios de segmento B2C quanto no B2B. Na área de B2C, nosso principal foco será a linha branca, onde continuamos fortalecendo a linha de produtos de ponta enquanto expandimos a nova linha de embutidos ou pequenos eletrodomésticos. Há também um grande espaço para desenvolver ainda mais o nosso segmento de baterias, que conta com uma fábrica em Manaus. Em relação ao B2B, reconhecemos que há um grande potencial na área de eficiência energética e inovação nos processos de negócios da indústria de manufatura e também no varejo. Nossa recente aquisição das empresas Union Rhac e Digital Full Service aqui no Brasil também está alinhada com essa estratégia.
DINHEIRO – Então o setor de eletroeletrônicos não foi afetado pela crise econômica que enfrentamos nos últimos anos no Brasil?
MATSUSHITA – A volatilidade da economia e do ambiente de negócios às vezes pode afetar nosso ritmo de crescimento em alguns segmentos no curto prazo. No entanto, devido à nossa iniciativa de acelerar vários novos pilares de negócios, tanto no B2C quanto no B2B, e no esforço de diferenciar nossos produtos e serviços no mercado, conseguimos oferecer um crescimento constante e forte, apesar da volatilidade da economia. Além disso, independente da situação econômica, nós valorizamos a grande abertura do mercado brasileiro e dos consumidores, que sempre nos incentivam a desenvolver produtos locais com mais tecnologia e serviços melhores.
DINHEIRO – Os produtos lançados no Brasil têm algum diferencial em relação ao portfólio global?
MATSUSHITA – Produtos lançados no Brasil têm suas particularidades, pois identificamos uma série de necessidades específicas do consumidor por meio de pesquisas. Toda a parte de tecnologia é desenvolvida na nossa sede, mas o design e os detalhes de cada um dos itens são pensados para identificar as necessidades do consumidor brasileiro.
DINHEIRO – Pode dar alguns exemplos sobre o que o consumidor brasileiro exige em relação a outros países?
MATSUSHITA – No segmento de eletrodomésticos, todos os produtos lançados no Brasil foram exclusivamente desenhados para o nosso consumidor. Trazemos a tecnologia japonesa com adaptações para o mercado local. Vou te dar um exemplo. Os refrigeradores do Brasil possuem mais espaço para as caixas de suco ou leite tetra pak, gavetas de legumes e verduras maiores, um compartimento específico para gelar mais rápido as latinhas, já que há uma clara demanda por consumir cerveja gelada, e outros atributos para atender o consumidor da melhor maneira.
DINHEIRO – O possível acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul poderia ter algum impacto positivo na operação brasileira?
MATSUSHITA – Apesar de ainda estarmos reunindo informações relevantes, não prevemos nenhum impacto direto em nossos negócios e operações.
DINHEIRO – De que forma a guerra comercial entre China e Estados Unidos pode afetar os negócios?
MATSUSHITA – Com certeza essa batalha comercial gera muita instabilidade, mas o maior reflexo para o nosso negócio pode ser na variação cambial e no que poderia impactar no custo das commodities, pois a maioria das nossas matérias primas tem esse vínculo direto.
DINHEIRO – Qual é o diferencial da Panasonic em relação aos principais concorrentes?
MATSUSHITA – A Panasonic é líder mundial no desenvolvimento de uma variedade de tecnologias e soluções eletrônicas para clientes nos setores de eletrônicos, habitação, automotivo e B2B. Por atuarmos em diversas áreas, conseguimos expandir globalmente a operação e agora temos 582 subsidiárias e 87 empresas associadas em todo o mundo. É importante ressaltar que reportamos vendas líquidas consolidadas de US$ 72,10 bilhões no ano fiscal de 2018. Esses números e a maneira como trabalhamos tornam a Panasonic única.
DINHEIRO – Que tipo de tecnologia está no radar da empresa agora?
MATSUSHITA – A Panasonic está oferecendo cada vez mais produtos que ajudam as pessoas a economizar recursos, algo que é fundamental e muito discutido no Brasil atualmente. No geral, tecnologias como a Econavi, um sistema inteligente que aumenta a economia de energia de acordo com a forma que o consumidor utiliza o produto, e a Inversor, que reduz o consumo de energia em 40%, são iniciativas que já contribuem para isso. Planejamos manter esse foco de ajudar os brasileiros a viver de forma sustentável ao tornar os nossos produtos mais eficientes.
DINHEIRO – Existem planos de expansão para o Brasil?
MATSUSHITA – Vamos acelerar ainda mais o crescimento dos negócios no Brasil com mais investimento em nossa operação. No entanto, não posso revelar números detalhados devido à política interna da Panasonic.
DINHEIRO – Que tipo de produtos a Panasonic ainda não fabrica no país, mas pretende começar?
MATSUSHITA – Identificamos várias possibilidades no mercado e precisamos procurar alternativas para explorá-las, mas não posso entrar em detalhes sobre elas neste momento.
DINHEIRO – Qual é o maior desafio para a empresa hoje?
MATSUSHITA – Olhando para o que a Panasonic representa no mundo, a possibilidade de trazer outras linhas para o Brasil e crescer nosso portfólio é enorme. O desafio é acelerar a expansão do nosso leque de produtos com base na estratégia e força de negócios global da Panasonic, mas de uma forma que todo esse plano e tecnologias possam ser adaptados ao mercado e aos clientes no Brasil.
DINHEIRO – O que podemos esperar para 2019?
MATSUSHITA – Nos produtos da linha branca, a empresa registrou um crescimento de 240% na produção entre 2013 e 2018. A nossa expectativa é continuar evoluindo. Até 2020, a nossa ideia é lançar ainda 20 novos modelos de linha branca. É claro que isso exige um investimento, mas, por política interna, não podemos revelar os detalhes.
DINHEIRO – E qual é o próximo passo para a Panasonic?
MATSUSHITA – A meta é um crescimento de dois dígitos por ano até 2021. Em relação à estratégia de médio prazo, o objetivo é consolidar cada vez mais a marca no cotidiano dos brasileiros, mas também ajudá-los a levar uma vida mais sustentável.