Calma! Eu sei que há muitos admiradores da Inglaterra que ficariam ofendidos se eu a chamasse de paisinho (isso mesmo, o diminutivo de país). Quem proferiu essa classificação foi o ex-ministro da Fazenda Antonio Delfim Netto ao criticar a decisão do Reino Unido de sair da União Europeia.

Não foi uma agressão gratuita. O professor Delfim Netto avalia que, do ponto de vista econômico, os ingleses têm muito mais a perder do que a ganhar com a votação histórica ocorrida no plebiscito desta quinta-feira. “A Inglaterra já não tem mais siderurgia e só sobrou um sistema financeiro sofisticado que pode migrar para Frankfurt”, diz o economista, se referindo ao centro financeiro alemão. “A Inglaterra vai virar um paisinho.”

Concordo com a análise do ex-ministro. A maioria dos eleitores (uma maioria muito próxima da metade) votou com o fígado, pensando nas dificuldades do curto prazo, incluindo o fluxo migratório. Esqueceram-se, no entanto, dois dos principais objetivos que levaram à criação da União Europeia: fomentar o crescimento econômico e reduzir o risco de guerras. Vale lembrar que os dois grandes conflitos do século XX foram gestados no Velho Continente.

A forte desvalorização da libra – a moeda caiu para o menor patamar em três décadas frente ao dólar – pode aumentar a competitividade dos produtos britânicos, mas o carro-chefe por lá é o mercado financeiro e não a exportação de produtos industrializados. A União Europeia já pediu pressa ao Reino Unido e a chanceler alemã Angela Merkel classificou a decisão de “golpe contra a Europa e o processo de unificação”.

A partir de agora, será uma questão de honra para os 27 países que permanecem unidos mostrar que os britânicos erraram, pois um eventual sucesso da Inglaterra servirá de estímulo para que outras nações busquem o seu próprio caminho. Pelas primeiras reações, podemos deduzir que haverá muita gente trabalhando para que a Inglaterra se transforme, de fato, num paisinho.