As escolas de origem britânica acordaram de um sono profundo e decidiram investir para reduzir a hegemonia dos Estados Unidos no ensino de língua inglesa no Brasil. Atualmente, o Conselho Britânico e os consulados trabalham com o objetivo de mostrar as vantagens de aprender inglês com o sotaque da Sua Majestade. ?Esse setor é tão importante para nós quanto a extração de petróleo no Mar do Norte?, afirma o diretor do Conselho Britânico no Brasil, Tim Burtchand. Em uma atitude ousada, uma das dez maiores escolas de idiomas britânicas, a Saint Giles, abriu uma unidade em São Paulo e prepara sua expansão para outras cidades nacionais. ?Há muito potencial para expandir nossos negócios no Brasil e por isso estamos aqui?, diz o presidente da Saint Giles, Mark Lindsay, que coordena as outras unidades da escola no Reino Unido. Lindsay esteve no Brasil nas últimas semanas para acompanhar a evolução da unidade no bairro do Pacaembu, em São Paulo. A chegada da Saint Giles surpreende porque esta é a única das seis unidades que não está situada em um país de língua inglesa.

Com a valorização da libra esterlina, que encareceu o custo de vida na Inglaterra, e com os estudantes descobrindo novos destinos, a Saint Giles resolveu fazer as malas para abocanhar os brasileiros que até o ano passado eram o maior grupo nas classes londrinas (os chineses tomaram a dianteira este ano). ?Atualmente, a Austrália e a Nova Zelândia estão ganhando a preferência dos jovens na faixa dos 18 anos, que vão para esses lugares em busca de novidades?, diz Teresa Lobo, diretora da Gotcha Idiomas, em São Paulo. Como o custo de vida nesses países é menor que na Inglaterra, as antigas colônias britânicas estão ganhando mais força no ensino da língua. ?Além do mais, há uma questão cultural?, diz Tatiana Ramires, gerente de marketing da Wizard do Brasil. ?O brasileiro quer ir para Orlando, não quer conhecer o Palácio de Buckingham.?

 

A Saint Giles quer ser mais um soldado do exército imperial para enfrentar o poderio americano. Mesmo considerando a maior instituição com tradição britânica, a Cultura Inglesa, o número de pontos mal chega perto das franquias que adotaram os costumes e métodos americanos. E há várias razões para isso. Preocupada com a qualidade, a empresa não aderiu ao esquema de franchising, que ainda permanece um tabu para as escolas britânicas. Nesse sistema, todos que preencherem alguns requisitos básicos podem, com um investimento inicial, tocar para frente uma unidade bastando para isso seguir um manual. ?Nós achamos que isso poderia prejudicar o nível das nossas aulas?, diz Christina Thornton, gerente de marketing da Cultura Inglesa de São Paulo. ?Por isso, cada uma das nossas unidades é independente?, diz ela. Assim, enquanto a Cultura Inglesa tem escolas próprias em 50 cidades, a Wizard semeou 1.200, a Fisk abriu 630 e o CCAA, 845.

Outra frente de ação dos ingleses está sendo comandada pelo Conselho Britânico, organização responsável pela difusão cultural do Reino Unido. A organização iniciou uma série de atividades de marketing para reverter a quinta posição que a Inglaterra ocupa na preferência dos estudantes brasileiros. Para tanto, a entidade vem patrocinando eventos de cinema de animação e desfiles de moda para propagandear seus cursos mais fortes lá fora. ?As aulas de no exterior viraram um componente obrigatório no orçamento de muitas famílias?, diz Alfredo Spínola, diretor da Belta, que agrega agências especializadas em intercâmbio. Por parte do Conselho Britânico, trata-se de manter funcionando um mercado de US$ 3,2 bilhões por ano. É nisso que os ingleses apostam.