Um setor da economia brasileira tem crescido no rastro da crise. Ele é formado por empresas especializadas em cobrar dos devedores as faturas não pagas. As altas taxas de inadimplência registradas no País ? só no primeiro trimestre deste ano o volume de cheques sem fundos somou R$ 16 bilhões ? deram origem a uma verdadeira indústria da cobrança. Vão de empresas de telemarketing, que possuem batalhões de atendentes para ligar na casa ou no escritório do devedor, aos cobradores, que vão pessoalmente atrás do cliente inadimplente. Segundo o Banco Central, o volume de empréstimo às pessoas físicas era de cerca de R$ 100 bilhões em março. Dessa soma, R$ 18 bilhões eram considerados créditos perdidos. De olho nesse mercado bilionário, empresas multinacionais de cobrança desembarcaram no País. Entre elas estão a americana Credigy e a argentina MO&PC Collections.

A MO&PC Collections é remunerada com uma parcela do crédito recuperado. Seu foco de atuação são os países que formam o Mercosul, como Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. ?A remuneração varia de 7% a 20% sobre o valor recebido?, afirma José Augusto Barbosa, gerente de cobrança da companhia no Brasil. ?Quanto maior for o atraso, maior o risco e, portanto, a remuneração.? A empresa tem entre seus clientes a DaimlerChrysler, a Redecard e a financeira Omni. Com 50 funcionários no Brasil, a MO&PC utiliza todos os métodos disponíveis para encontrar o devedor. ?Mandamos cartas,
e-mail, fazemos contato por telefone e, se ainda não resolver, apelamos para o cobrador tradicional?, diz Barbosa. Já a Credigy se dedica a comprar carteiras de clientes inadimplentes de companhias como Pão de Açúcar, Itaú e Credicard. O crédito recuperado vai diretamente para o seu cofre.

O avanço das multinacionais de cobrança se dá sobre as firmas locais, muitas delas pequenas, familiares, e com pouca tecnologia. No mercado, estima-se que existam mais de cinco mil empresas de cobrança. ?Desse total, não mais do que 50 têm mais de 15 funcionários e uma boa estrutura operacional?, avalia Jaime Enkin, ex-vice-presidente da área de risco do Citibank, que acaba de montar a Skip Brasil para atuar na área. A concorrência com as grandes multinacionais do setor não preocupa o presidente da Associação das Empresas de Recuperação de Crédito, Cirne Nunes de Andrade. Para ele, o que os estrangeiros vêem como vantagem é, na verdade, um custo a mais. ?A estrutura deles é muito cara?, diz Andrade. Os recém-chegados, porém, não desanimam. ?A rentabilidade é boa?, rebate Barbosa, da MO&PC. ?Na área de veículos, recuperamos 85% dos créditos?. Devedores, abram os olhos.

RAIO-X DOS DEVEDORES
16
BILHÕES
Foi a soma, em R$, dos cheques devolvidos no primeiro trimestre Inadimplência em alta
(% de cheques devolvidos sem fundo)
Janeiro/04: 2,70
Fevereiro/04: 2,65
Março/04: 3,63
Fontes:CheckOk, Telecheque