O Brasil e o mundo têm passando por transformações profundas. Um momento difícil, uma crise sem precedentes. Tempos de reavaliação de modelos que deram certo e errado. Um dos problemas aflorados neste difícil período são as relações raciais e como elas se estruturaram no século XX, causando muitas desigualdades.

Nosso país é um caso emblemático: foi o último do mundo a abolir a escravatura, há 132 anos, e o fez de forma errada, criando profundas desigualdades. Os escravizados que para cá vieram construíram essa nação ao longo de quase quatro séculos e foram esquecidos, deixados à margem da sociedade sem nenhum amparo legal ou reparação. Nascia aí a cultura da excludência humana brasileira, na qual o lugar de negro no mercado de trabalho e na sociedade é a subalternidade. Lugar de não-presença nos cargos de decisões da nova economia que se formou, na indústria, no comércio, na educação, em todas as áreas. Nosso lugar é da sub-representação.

Só agora começamos a fazer algumas mudanças, ações que podem transformar um pouco essa desigualdade. Falo das políticas de ações afirmativas, como as cotas para negros e negras nas universidades, algo que só aconteceu no século 21, com mais de cem anos de atraso, uma vez que a abolição da escravatura ocorreu em 1888. Porém, mudanças de governo, transições esquisofrênicas de uma aberração política que o país vivencia, colocaram tudo para segundo plano novamente.

O setor privado, mais autêntico, mais moderno, plugado com o mundo e também pensando que o Brasil pode dar certo, que pode ser esse o país dos nossos sonhos, tem realizado várias ações. A maioria das empresas ainda é de multinacionais que estão conectadas ao mundo, um universo cada vez mais diverso que nos enche de esperança.

Atitudes como a da Magazine Luiza, que destinou seu programa de trainee em 2020 a negros e negras, não são novas. Outras empresas têm realizado isso, como a alemã Bayer, que tem um programa similar, bem como o Carrefour, a Coca Cola, o Itaú, o Santander entre outras. Mas o fato de ser uma empresa brasileira – e a Luiza Trajano ser uma apaixonada por esse país – realmente causou muita polêmica. Da mesma forma que qualquer mudança de paradigma sempre causará.

Os poucos críticos da ousada medida do Magazine Luiza esqueceram-se de uma coisa: o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou há alguns anos uma medida similar em ações afirmativas, as cotas para negros nas universidades, que teve aprovação de 10×0, abrindo brecha para que estados, municípios, sociedade civil incluindo o setor privado, tivessem posicionamento, atitude e medidas para que o segundo maior país negro mundo quem sabe um dia seja o primeiro em igualdade racial, dando assim um exemplo a humanidade.