As alemãs Mercedes-Benz e Volkswagen disputam boleia a boleia a liderança do mercado de caminhões no Brasil. Uma concorrência que se acirrou ao longo de 2021 e terminou com o retorno da última ao topo do ranking, após cinco anos, com vantagem de pouco mais de 300 unidades vendidas. E, ano após ano, a Volvo mostra que a briga pelo posto mais alto do pódio deverá se acirrar em um futuro não tão distante. Em 2021, a companhia sueca registrou recorde de produção e de vendas desde o início das operações no País, em 1980. Um desempenho evidenciado pela ascensão gradual da participação da empresa no mercado nacional nos últimos dez anos. “Tivemos um ano recorde”, afirmou à DINHEIRO Wilson Lirmann, presidente do grupo Volvo América Latina. “Não foi o melhor ano financeiramente, por causa de tantas coisas que aconteceram, mas foi o melhor volume da nossa história.”

A Volvo comercializou 21.820 unidades em 2021, crescimento de 46% na comparação anual (14.975). A participação de mercado atingiu 17,19%, contra 16,79% do período anterior e de 11,53% de 2012. O ano aquecido resultou em carteira de pedidos cheia até o fim do segundo trimestre de 2022. O Brasil representou 85% do faturamento obtido na região ­— a média antes da pandemia era de 65% —, também com vendas em movimento ascendente: foram emplacados no total 25.808 caminhões, 43% a mais na comparação anual. Países como o Peru (incremento de 62%, com 1.628 unidades entregues) e Chile (alta de 42%, e 1.355 modelos vendidos) também tiveram importante participação nos números. A América Latina é responsável por 11% da receita global.

85% da receita computada pela Volvo Caminhões na américa latina no ano passado foi dos negócios no Brasil

O destaque da Volvo na temporada foi o modelo pesado FH 540, o mais vendido entre todas as categorias no Brasil pela nona vez em 13 anos, com 8.935 unidades. A marca é líder no segmento de pesados e apresentou a nova geração da linha F, com três modelos (FH, FM e FMX) lançados simultaneamente. A iniciativa faz parte de ciclo de investimentos de R$ 1 bilhão, com validade entre 2020 e 2023, que será finalizado com o desenvolvimento dos motores Euro 6, equivalentes ao Proconve P-8, previstos para janeiro de 2023.

E as novidades não pararam. Diante da expectativa de crescimento do mercado latino-americano este ano, a bandeira anunciou nova rodada de investimentos para o intervalo entre 2022 e 2025. O montante chegará a R$ 1,5 bilhão e será destinado ao desenvolvimento de pesquisas, além de novos produtos e serviços para a região. “Acreditamos em um período de muitas transformações na indústria de transportes, e continuaremos trazendo inovações em produtos e serviços”, disse.

PRECAUÇÕES O entusiasmo de Lirmann com os novos negócios esbarra nas perspectivas de um cenário mais turbulento em 2022 em relação a 2021. Questões como inflação elevada, taxas de juros em ascensão e o próprio cenário político, com a possibilidade de a corrida presidencial causar agitação econômica, preocupam. “Por outro lado, temos fortalezas na economia da região, casos do agronegócio e da mineração.”

TEMPORADA DE OURO O lançamento da nova geração da linha F foi uma das novidades da empresa dirigida pelo presidente Wilson Lirmann em 2021. Escassez de semicondutor ainda ameaça a produção. (Crédito:Divulgação)

Os desdobramentos da guerra entre Rússia e Ucrânia também são acompanhados de perto. Além do ponto de vista humanitário, os efeitos econômicos do conflito provocam incertezas. “O primeiro impacto ocorre em energia e petróleo com o aumento dos preços dos combustíveis”, afirmou. Segundo ele, o diesel, especificamente, corresponde a algo entre 35% e 50% dos custos dos operadores de transporte. A tendência é de mais inflação e de mais taxa de juros. “Tudo isso pode ser um freio para a economia. E certamente irá impactar na questão do crédito e do financiamento e nos preços das linhas de caminhões e ônibus. É inevitável.”

As preocupações, no entanto, não se restringem ao conflito. Os desafios da cadeia de produção, tanto em capacidade como em aumento de custos, têm exigido atenção. O problema de escassez de semicondutores continua. “Isso sem contar que a cadeia logística segue impactada, com os sistemas de transporte marítimo e aéreo ainda no limite, com atrasos, por exemplo. São situações que teremos que administrar”, afirmou o executivo.

Diante de tantas dúvidas, a Volvo decidiu rever a projeção de crescimento para a temporada, estimada inicialmente em até 10%. O número ainda não está fechado. A previsão é que o mercado continue aquecido, mas com tendência de desaceleração. “A preocupação está mais na tendência do que no volume do ano”, afirmou Lirmann. Uma estrada bastante sinuosa, mas que a bandeira se mostra disposta a percorrer, sempre com muita atenção, para alcançar o destino tão almejado: a liderança geral.