A rede de fast-food de frango KFC, que pertence ao Grupo Yum!Brands International, esconde a sete chaves a receita de onze ingredientes desenvolvida em 1939 pelo Coronel Sanders, nos Estados Unidos – uma das razões pelas quais a marca é tão popular nos 125 países onde está presente. No Brasil, a rede chegou já na década de 70, com o nome completo de Kentucky Fried Chicken, mas teve dificuldades para crescer e precisou fechar as portas. Ela tentou novamente nos anos 90 e começo de 2000, com resultados igualmente desastrosos.

Uma virada tímida começou em 2011, quando o KFC adotou um modelo de lojas compactas, de até 60 metros quadrados, em shoppings centers. Ainda assim, a média de inaugurações da rede não passava de dez unidades ao ano – hoje totalizam apenas 50 estabelecimentos. Em janeiro deste ano, o empresário Carlos Wizard Martins, controlador das franquias Pizza Hut e Taco Bell, decidiu sacudir esse mercado: apesar dos frequentes naufrágios da companhia, Wizard comprou a operação do KFC no Brasil.

O valor do negócio não foi revelado. Mas, no começo do ano, o empresário disse à DINHEIRO que desembolsaria R$ 60 milhões na abertura de 20 lojas próprias nos próximos 5 anos. Agora, o plano é ainda mais ambicioso: a meta é abrir 500 novas lojas nos próximos 10 anos. Até o final deste ano, serão 25 novos pontos em todo o país.

Mas o KFC vai ter de encarar um concorrente de peso. A rede americana Popeyes Louisiana Kitchen, segunda maior cadeia de fast-food de frango do mundo, inaugurou suas operações no Brasil em outubro deste ano. A marca foi comprada em fevereiro do ano passado pela Restaurant Brands International (RBI), controlada pelo 3G Capital, dos brasileiros Jorge Paulo Lemann, Marcelo Telle e Carlos Alberto Sicupira – que também controlam a rede Burger King no país. Em março, a BK Brasil selou um acordo com a RBI para ser a masterfranqueadora da Popeyes durante 20 anos.

Com fôlego: “Temos um mercado enorme de consumo de frango”, diz Miranda, da Popeyes

O apetite da companhia é grande. A intenção de Iuri Miranda, presidente da marca no Brasil, é investir R$ 1 bilhão na abertura de 300 restaurantes nos próximos 10 anos. Para isso, a ideia do executivo é atuar com similaridade ao que fez com Burger King no país, que aumentou o número de restaurantes de 100 para mais de 700 em 7 anos. “Nós percebemos que há um mercado enorme de consumo de frango no Brasil”, diz Miranda. “O que a gente quer é transformar essa proteína em protagonista na alimentação fora do lar.”

Assim como no KFC, o carro chefe do negócio é o frango empanado. A diferença, segundo o presidente da Popeyes, é o método de preparo, que envolve um tempero típico da Louisiana, no qual a proteína é marinada durante 12 horas. A chegada da rival, no entanto, não assusta o KFC. Com presença já consolidada nas praças de alimentação de shoppings, o foco da companhia liderada por Wizard será nos restaurantes de rua – com 250 metros quadrados – e no delivery dos produtos. “Até o final deste ano, vamos ter 20 lojas com esse serviço”, afirma Ildefonso de Castro, gerente-geral do KFC Brasil.

Além de desenvolver um aplicativo próprio, o executivo antecipou à DINHEIRO que vai utilizar a plataforma da UberEats para realizar as entregas. No total, entre investimentos da marca e dos franqueados, serão desembolsados R$ 40 milhões até dezembro. “Somos a marca mais copiada do mundo. Todas que usam o formato de frango no balde estão replicando o que o KFC lançou em 1952”, afirma Ildefonso Castro.

Para os especialistas em food service, o interesse no mercado brasileiro tem fundamento. Por aqui, a alimentação fora de casa representa 28% do gasto da população, enquanto que em outros países, como China e Estados Unidos, o percentual chega a 83% e 52%, respectivamente. “O frango é a proteína mais consumida no Brasil. São 42 quilos por habitante por ano”, diz Cristina Souza, diretora executiva da consultoria GS&Libbra. “O problema é que nenhuma rede internacional tinha se consolidado com força nesse segmento.”

Para Rafaela Natal, especialista na área de alimentação da consultoria AGR, a expansão agressiva das duas redes é positiva e deve reanimar os investimentos no setor. “Essa concorrência acaba chamando atenção de outras redes para estabelecerem suas lojas no Brasil”, afirma. “Quanto mais elas crescerem, mais competitividade haverá no mercado – inclusive entre as redes nacionais. As duas marcas precisam mostrar a que vieram.” Resta saber que tempero vai ganhar a preferência do consumidor. A guerra dos frangos promete ser saborosa.