O presidente da Agência Nacional de Telecomunicações, Renato Guerreiro, escreveu na sexta-feira 15 um novo capítulo da briga entre o banco Opportunity, os fundos de pensão e as operadoras estrangeiras. Decretou intervenção na Telemar, colocando em cena um novo protagonista: o próprio governo, que passa a controlar a empresa, enquanto investiga a participação cruzada do banco carioca na Telemar e na Brasil Telecom. Pelo regulamento da privatização, é proibido participar de duas operadoras de telefonia fixa, o que a instituição do economista Daniel Dantas estaria fazendo de forma dissimulada, segundo denúncia da Telecom Itália. A medida não significa o final da guerra, mas marca uma nova fase, na qual os adversários recorrem a novas armas ? da pressão política aos contratos de gaveta.

O jogo inclui lutadores peso pesado e habituados aos ringues de Brasília. O ex-presidente do BC, Gustavo Franco, foi contratado como lobista pela canadense TIW e passou as últimas semanas arrumando munição para bombardear Dantas no Planalto. Um diretor do Citigroup nos Estados Unidos ligou para autoridades federais, pedindo que ajudassem a apaziguar os sócios das telefônicas. Dizia-se preocupado com o dinheiro de investidores americanos nos fundos CVC (Citibank Venture Capital), que no Brasil são administrados pelo Opportunity. O ministro Alcides Tápias, designado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para aquietar os ânimos, reuniu-se com o presidente da Previ, Luiz Tarquínio Ferro, e o presidente da Petros, Carlos Flory, para avisar que a disputa acionária não podia ?manchar o processo de privatização?. E o presidente da Anatel, Renato Guerreiro, conversou em separado com Tarquínio, Dantas e um representante da Telecom Itália, para avisar que a briga não poderia afetar o desempenho da Brasil Telecom. ?Se isso for necessário, seremos duros?, avisou, dias antes da intervenção.

O Opportunity sempre jogou bem o xadrez do poder. Quando as fitas do grampo no BNDES vazaram, em 1998, o ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, caiu por parecer exageradamente empenhado em ajudar o consórcio do banco carioca nas privatizações. Pérsio Arida, ex-presidente do BC e do BNDES, e Elena Landau, ex-diretora de privatização do BNDES, passaram pela diretoria da instituição. O Opportunity sempre figurou entre os parceiros mais íntimos dos fundos de pensão. O problema é que parece ter perdido muitos aliados.

Nos bastidores, o Opportunity conseguia manter fidelidades com contratos de gaveta, aos poucos revelados pelos adversários. Um deles envolve a Previ. Convidada a entrar na privatização da Brasil Telecom com valor maior que o dos outros fundos de pensão, ela concordou. Mas exigiu, em troca, o controle da operadora. O Opportunity não aceitou. Propôs, por sua vez, que o dinheiro ficasse no fundo CVC, e ofereceu um belo desconto na taxa de performance. A Previ concordou. O banco assinou um compromisso, a promessa foi registrada em ata. Mas nunca houve redução da taxa. O Opportunity depois alegou que isso seria ilegal (?Nosso compromisso era estudar a redução. Não garantimos que ela aconteceria?, diz uma fonte do banco). A Previ ficou sem o controle da Telecom e sem o desconto.
As histórias de negociações de gaveta, agora desenterradas, alimentaram o clima de desconfiança entre os sócios. Uma fonte ligada à Telecom Itália disse a outros acionistas que chegou a negociar com o Opportunity a divisão da taxa de operador da Brasil Telecom. É um pagamento de aproximadamente R$ 40 milhões anuais, como remuneração ao sócio que traz a tecnologia. Segundo essa versão, a conversa foi interrompida quando os italianos descobriram que o banco havia dado ações da holding que controla a empresa como garantia de um empréstimo, sem avisá-los. É o terceiro episódio do gênero comentado pelos adversários. Os canadenses da TIW já haviam reclamado de uma side letter firmada com o banco, que não estaria sendo cumprida. Na semana passada, para rebater o ataque, o Opportunity enviou correspondência à TIW exigindo que pedisse desculpas pelas acusações. Resta aguardar o próximo round.