João Bosco Silva, presidente da Alcan no Brasil, é daqueles que vestem a camisa da empresa. Já foi capaz, por exemplo, de dar uma bronca num dono de restaurante quando não encontrou refrigerante ou cerveja em lata. Também convenceu a mulher a tirar da lista de compras os refrigerantes em embalagem PET. Talvez por ser um aficionado por latinhas de alumínio, o presidente da Alcan tenha despertado para um ?detalhe? que poucos perceberam no setor: a fabricação das tampas de alumínio. Isso mesmo. Não há ninguém no Brasil, acredite, que produza a peça. As empresas fazem as latas, fazem o anel, mas importam as tampas. Isso ocorre há 10 anos, desde que surgiu a primeira lata com a logomarca da Skol. Para se ter uma idéia, o País gasta anualmente US$ 50 milhões no processo de importação. A Alcan, então, investiu US$ 370 milhões na ampliação da fábrica de Pindamonhangaba (SP) para se transformar na única produtora de tampas do País. Em julho de 2001 passa a atender aos cinco fabricantes nacionais de latas. Pelos cálculos do executivo, a companhia deverá abocanhar pelo menos 50% da demanda que agora é atendida com importações. ?Seremos mais flexíveis do que os exportadores?, diz Silva.

 

A fabricação das tampinhas é uma das armas contra a concorrentes. Enquanto a indústria deve crescer entre 1% e 2% neste ano, a Alcan espera que suas vendas aumentem em torno de 20%. Apesar de satisfeito com o desempenho da companhia, Silva, que também preside a Abal (Associação Brasileira do Alumínio), promete resultados ainda melhores para 2001. A solução será investir em áreas que ainda representam pouco nos resultados. Uma das frentes será a de embalagens para a indústria farmacêutica e de alimentos ? que vai do envelope de Sonrisal até o pacote de biscoito. O reforço tecnológico vem da suíça Algroup, que se fundiu com a Alcan no mês passado e é líder nesse segmento. Silva não quer parar por aí. Promete melhorar o desempenho em outras duas áreas: construção civil, onde oferece alumínio para a fachada de prédios, e na indústria de transporte, que utiliza o metal na carroceria de carros e ônibus. ?Vamos oferecer mais produtos, sem perder o foco?, explica o executivo. O desafio para Alcan, admite Silva, é conseguir escala nos setores em que o desempenho ainda é tímido. Esse foi um dos motivos, além da falta de tecnologia, pelos quais o investimento na produção de tampas de latinhas foi adiado. Nos últimos cinco anos, porém, o consumo de latas de alumínio na indústria de bebidas cresceu 500%, entusiasmando a Alcan a aumentar sua aposta.

De olho na possibilidade de avançar os negócios por aqui, os executivos instalados no QG em Quebec, no Canadá, destinaram nos últimos dois anos US$ 700 milhões para o Brasil. Foi o maior investimento em uma unidade fora do Canadá. Isto porque há um grande potencial no País. Basta dizer que por aqui o consumo per capita é de apenas 4,4 quilos de alumínio, uma insignificância se comparado à média de 28 quilos nos países desenvolvidos.