>Ao comprar a Todeschini no início da década de 70, o empresário gaúcho José Eugênio Farina tinha uma ambição singela: tornar-se líder na fabricação de acordeões, o anacrônico instrumento musical que ainda fazia sucesso naquela época. Mas um incêndio que destruiu a fábrica em 1971 e o advento da guitarra elétrica no Brasil obrigaram Farina a mudar de planos. Depois de instalar a fábrica em um pavilhão concedido pela prefeitura, a companhia começou a produzir móveis modulares para cozinha. Forçado pelas circunstâncias, Farina deu o melhor passo de sua vida. Na semana passada, a Todeschini anunciou a compra de sua principal concorrente, a Carraro, e tornou-se a maior fabricante de móveis do País, dona de um faturamento próximo dos R$ 600 milhões e um quadro de funcionários com mil profissionais. ?Com esse negócio, uni a minha fome com a vontade de comer?, diz o presidente da Todeschini.

A fome, no caso, é a necessidade de crescer, ganhar escala num mercado de concorrência acirrada. A vontade de comer significa a possibilidade de atender novos tipos de consumidores, já que as linhas de produtos das duas companhias se complementam. Enquanto a Todeschini produz os móveis modulares (peças que se ajustam ao tamanho do ambiente) e opera com lojas exclusivas, a Carraro continuará presente em pontos-de-venda multimarcas de olho num consumidor com menor poder aquisitivo do que o da antiga concorrente. Além disso, manterá a Criare, marca de produtos mais populares. A Carraro permanecerá como empresa independente. A diretoria, comandada pelo executivo Ademar De Gasperi, será mantida, segundo Farina. A aquisição inclui ainda duas outras unidades dedicadas à metalurgia e à cromagem, ambas localizadas em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha.

O principal objetivo de Farina com a aquisição da Carraro é atender o mercado interno com produtos para todas e quaisquer classes sociais. ?Aumentamos nosso portfólio e agora temos diferentes canais de distribuição?, conta. Na visão de especialistas, a negociação vai movimentar como nunca o segmento de móveis dentro do País. ?A Todeschini vai ganhar volume no mercado e hoje já é líder no setor. Desconfio que a companhia poderá se tornar em breve a maior também na América Latina?, afirma José Luís Fernandes, presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário, Abimóvel. Fernandes salienta que não existe a possibilidade de as marcas se confundirem e acabarem perdendo força no varejo. ?A Carraro sempre foi um nome atrelado a móveis de dormitórios e a Todeschini tem mais presença em escritórios e cozinhas?, explica.

Juntas, as duas empresas formam uma rede de comercialização poderosa. A Todeschini possui seu logotipo em 400 lojas exclusivas. Já a Carraro possui 115 pontos- de-venda com sua marca, além de estar presente nas lojas multimarcas. No Brasil, o grande adversário é a Casas Bahia, dona de sua própria marca de móveis, a Bartira, e de uma rede de mais de 540 lojas. O passo seguinte é o mercado externo. ?Ainda não temos condição de competir fora do País por conta da desvalorização do dólar. Mas com a nossa força de produção, agora com a compra da Carraro, não podemos descartar nada para os próximos anos?, diz Farina.