O conceito de bolsa de valores é muito simples. É o ambiente que conecta interessados em comprar e vender títulos, chamados de ações, de empresas de capital aberto. As companhias ligadas à nova economia têm preferido realizar diversas rodadas de captação privada de dinheiro, como a Uber, em vez de promover um IPO (oferta pública inicial, na sigla em inglês). Por esse motivo, falta uma plataforma para que o investidor de uma startup, interessado em se desfazer de sua participação no negócio, encontre um comprador. A StartSe, que foi criada há três anos e ficou mais conhecida pela sua área de educação, acaba de lançar a StartSe Deals, que pretende ser, em um futuro próximo, essa bolsa de valores de investimentos em empresas iniciantes. “Com o rápido crescimento dos investimentos em startups, há a necessidade de criação de um mercado secundário”, diz Eduardo Glitz, sócio da StartSe. “A evolução da Deals é ser uma bolsa, mas, por enquanto, vamos fazer as conexões sem a transação financeira.”

A StartSe Deals inspirou-se na empresa americana SecondMarket, criada em 2004 justamente para intermediar o interesse em participar de uma startup, o Facebook. Em 2015, ela foi vendida para a Nasdaq, a bolsa de empresas de tecnologia dos Estados Unidos. O negócio deu origem à Nasdaq Private Market, que funciona como o local de compra e venda de participação em empresas privadas. Esse espaço de tempo mostra a diferença de maturidade entre os mercados: só 14 anos depois, o brasileiro terá um modelo semelhante ao americano.

Inicialmente, a StartSe Deals vai funcionar como uma butique financeira, promovendo a aproximação entre as startups, os investidores e as empresas que buscam desenvolvedores de produtos ou que queiram acelerar um negócio. Como uma assessoria, ela vai fazer a seleção de tecnologias inovadoras que precisam de um aporte de capital. A ideia é encerrar este ano com 15 mil startups cadastradas no sistema e aumentar o número de três mil investidores que estão no seu ecossistema. O responsável por esse trabalho será o executivo Daniel Radomysler, que passou pela área de fusões e aquisições do Itaú BBA. “Um dos grandes problemas do Brasil, hoje, é não ter um avalista para garantir que uma determinada startup é um bom negócio”, diz Silvio Paixão, consultor patrimonial e professor da Faculdade Fipecafi. “Ao assumir essa função, naturalmente a empresa vira referência e pode se transformar na operadora de uma câmara de negociação.”

Nova economia: a StartSe, de Eduardo Glitz (sentado) e Pedro Englert, que se destacou com eventos (à direita) e cursos, coloca um pé nas finanças (Crédito:Gabriel Reis | Divulgação )

Nesse primeiro momento, não será possível funcionar como uma bolsa de valores. É preciso esperar a regulamentação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Recentemente, a xerife do mercado de capitais autorizou a criação de crowdfundings de investimentos. Por isso, a StartSe Deals estará ligada à Cap Table, uma empresa de financiamento coletivo para empresas desenvolvida por Paulo Deitos Filho, criador da Urbe.me, que tem a StartSe como sócia.

Ao mesmo tempo em que inicia sua butique financeira para startups, a StartSe prepara a mudança de sua sede para os Estados Unidos. Nas próximas semanas, o endereço da companhia passará a ser Palo Alto, na Califórnia – os sócios ainda estão em busca de um imóvel. Brasil, China e Israel passam a ser filiais nessa nova configuração. Estar no Vale do Silício é simbólico. A StartSe vai conseguir elaborar e captar conteúdo para seus cursos e eventos no berço da inovação global. Mais importante: vai poder distribuir para todos os países, algo que não acontecia quando o conteúdo era feito no Brasil.

O primeiro curso dessa fase é um mapeamento de tendências no mundo das fintechs, que será disponibilizado em setembro no site da empresa. Em outubro, será apresentado uma pesquisa para o varejo. “Vamos conseguir distribuir o nosso conteúdo para o mundo, alcançar mais pessoas e rentabilizar mais os nossos esforços”, afirma Pedro Englert, sócio da StartSe que vai se mudar para os Estados Unidos. “É quase uma StartSe University, de educação continuada para a nova economia, trazendo os conceitos mais modernos, que não estão na teoria.” A expectativa da empresa é alcançar um faturamento de US$ 18 milhões em 2019, só com essa linha de negócio. Nada mal para uma empresa que projeta faturar R$ 45 milhões neste ano.