No acanhado aeroporto de Toulouse, no Sul da França, turistas americanos vagueiam pela área de desembarque em busca de transporte. “É uma época movimentada”, afirma a motorista que os aguarda do lado de fora. A cena se repete a cada voo que chega. O país é um dos cinco destinos mais procurados por cidadãos dos Estados Unidos, quando viajam para o exterior. Nos últimos meses, no entanto, a presença de visitantes tem aumentado. E não só de americanos. É o que indicam os números divulgados pelo Insee, instituto francês de estatísticas, equivalente ao brasileiro IBGE. Em agosto, por exemplo, a indústria hoteleira registrou uma alta de 2,7%, ante o mês anterior. Incluindo o segmento de alimentação fora de casa, a categoria acumula uma alta de 4,6%, no ano. Trata-se de um indicativo importante para o turismo francês, que vinha experimentando um momento de vacas magras desde novembro de 2015, quando uma série de atentados coordenados por grupos extremistas deixaram um rastro de 129 mortos na capital Paris.

Os bons ventos parecem estar definitivamente de volta à terra do croissant, e não é só no setor de turismo. Também de acordo com o Insee, o otimismo no mundo dos negócios está em seu nível mais alto desde 2011. Na indústria, o indicador de clima alcançou 111 pontos, o maior valor desde 2007. Com isso, na média, o setor planeja elevar em 7% os investimentos para este ano. Outro dado importante é o do crescimento de 0,5% do consumo doméstico, puxado pelos segmentos de energia, bens de capital e vestuário. Não por acaso, o PIB francês registrou uma alta de 0,5% no terceiro trimestre deste ano, a quarta seguida, confirmando expectativas e colocando o país na rota de uma elevação de 1,8% na economia, em 2017. Entre 2009 e 2016, o PIB francês avançou apenas 0,5%. Após oito anos de resultados, no mínimo, sonolentos, a França tem motivos para voltar a sorrir. “Com todos os indicadores combinados, a dinâmica geral é de um crescimento sólido, virtuoso e sustentável”, afirmou a economista do banco BNP Paribas, Hélène Baudchon, ao jornal Le Monde.

A volta por cima da França coincide com dois movimentos. O primeiro é a chegada de Emmanuel Macron à Presidência, o que afastou o risco de uma guinada à direita radical, simbolizada pelo bom desempenho de Marine Le Pen e sua obscura Frente Nacional nas últimas eleições. O segundo é uma onda geral de otimismo na Europa. Dados divulgados na semana passada pela Eurostat, a agência de estatística da União Europeia, mostram que a zona do euro cresceu 2,5% no terceiro trimestre, na comparação com o mesmo período do ano anterior. Foi a maior alta em seis anos. Nem mesmo as preocupações com o futuro da Grécia ou os arroubos separatistas dos catalães na Espanha parecem abalar a retomada do Velho Continente.

Para os franceses, no entanto, não se trata de um milagre econômico. “Os ingredientes para a recuperação estavam aí, faltava os maus ventos se dissiparem”, disse Baudchon. Para o Observatório Francês de Condições Econômicas, fundação dedicada a pesquisas e previsões econômicas, a França está se beneficiando da retomada do comércio global e da zona do euro. Tanto que Macron está sendo chamado pela imprensa local de “presidente sortudo”. Afinal, fazia muito tempo que o ambiente econômico não era tão positivo. Ao mesmo tempo, o país instituiu uma série de medidas, nos últimos cinco anos, que o permitem, agora, velejar de vento em popa nessa lufada de bons resultados. A principal delas é o chamado CICE, ou Crédito Fiscal para Competitividade e Emprego.

Instituído em 2012, durante o governo de François Hollande, o CICE garante crédito fiscal a empresas que mantiverem seus funcionários com salários de até duas vezes e meia o salário mínimo. O percentual, hoje, é de 7% da folha, mas vai cair para 6% em 2018. A medida é polêmica. Seu custo anual é estimado em € 20 bilhões e há quem diga que os efeitos para o emprego são pequenos. Afinal, apesar da recuperação econômica, a taxa de desemprego segue em 9,5%, um patamar elevado. No entanto, Macron prometeu transformar o CICE em uma redução permanentes de custos para as empresas. Talvez por isso o otimismo esteja em alta entre os empresários franceses. É o Velho Continente renovando a sua economia.