Em sua linguagem neutra, os profissionais do mercado financeiro costumam usar a palavra “desafiador” para indicar qualquer situação de risco, difícil ou imprevisível. No entanto, aplicar desafiador a 2020 seria o eufemismo do século. Faz parte do trabalho dos estrategistas de investimentos traçar cenários para tentar antecipar riscos ou oportunidades futuras. Porém, o ano que se encerra rompeu todos os parâmetros. “Ninguém poderia prever o que aconteceu”, disse o principal executivo da empresa de gestão de recursos do Bradesco, Ricardo Almeida. Todas essas surpresas podem ser resumidas em uma palavra: coronavírus. A pandemia começou na China na virada de 2020 e parecia um assunto muito distante. No entanto, ainda no primeiro trimestre os profissionais dos mercados financeiros ao redor do mundo perceberam que estavam lidando com uma situação inédita. Uma pandemia de uma doença potencialmente mortal provocada por um vírus para o qual não havia vacina. A única solução seria trancar as pessoas em casa para reduzir a contaminação e as mortes. Ao lidar com esse cenário, os trabalhadores do dinheiro, assim como os da saúde, confrontaram o desconhecido, com consequências devastadoras.

Mais do que isso, a crise provocou solavancos inéditos nos preços dos ativos. Se fosse necessário explicar a volatilidade com um número, basta olhar para o Ibovespa. Em poucos meses, o principal indicador acionário brasileiro atingiu um recorde de 119 mil pontos e recuou a um fundo de vale abaixo de 64 mil pontos. Porém, antes que o ano se encerrasse, voltou a rondar o pico do início de 2020. O ano se encerra com mais de 3 milhões de pessoas físicas investindo em ações, níveis recordes de captação de recursos pelas empresas e os profissionais dos bancos de investimento esperando desempenho ainda melhor em 2021.

LIQUIDEZ O que explica tamanha volatilidade é a atuação firme dos bancos centrais, o do Brasil inclusive. Na tentativa de atenuar o impacto das medidas de isolamento social sobre a economia, as autoridades monetárias ao redor do mundo não só mantiveram os juros baixos, zerados ou negativos, como intervieram diretamente nos mercados, comprando títulos públicos e privados para evitar a inadimplência e o estrangulamento do sistema financeiro. Segundo levantamento do Bank of America junto a 97 países, os estímulos globais para mitigar os efeitos da crise sanitária somaram US$ 25 trilhões. O valor inclui tanto renúncias fiscais quanto expansão monetária. Apenas no Brasil, 35o no ranking dos países que mais abriaram o cofre, foram US$ 209,3 bilhões, o equivalente a 11,2% do PIB. Tanto dinheiro novo circulando provocou intensas oscilações nos preços e levou vários ativos, como ações, commodities e criptomoedas, a atingir cotações recordes, com evidentes distorções de mercado.

US$ 9,3 tri foi a expansão monetária promovida pelos bancos centrais para mitigar os efeitos da pandemia. Se somada às políticas fiscais, valor chega a US$ 25 trilhões, segundo o bank of america.

Essa situação deve continuar. Segundo o executivo responsável por investimentos da Bram, Marcelo Nantes, uma estratégia que garantirá a saúde das finanças no ano que se inicia embute vários princípios ativos em sua farmacopeia. O mais importante deles é a diversificação. “A recomendação é mesclar ativos formadores de poupança, como títulos públicos de longo prazo indexados à inflação, e alternativas mais voláteis, como os fundos multimercados, sem esquecer de dedicar uma parcela à renda variável”, disse ele. Há boas razões para isso. Em um cenário tão imprevisível, em que os mercados oscilam ao sabor de algo tão elusivo como as expectativas com relação às vacinas contra a Covid, tentar prever os movimentos tornou-se um exercício muito mais arriscado do que era antes da pandemia, pois o excesso de liquidez amplifica a volatilidade.

O que esperar? Nesta edição especial Onde Investir em 2021, DINHEIRO conversou com analistas de ações e especialistas de mercado para apontar as estratégias mais adequadas para lidar com o pós-pandemia ou com a inevitável segunda onda da pandemia. Uma certeza: os fundamentos das finanças continuam valendo. Apesar dos solavancos do mercado, os analistas seguem acreditando em comprar boas estratégias empresariais e na criteriosa seleção de investimentos. Além das ações mais promissoras, as páginas a seguir trazem um teste para ajudar você a descobrir seu perfil com investidor. Agora é se preparar para 2021. Saúde!

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