Os cem quilômetros que ligam o aeroporto de Chapecó, em Santa Catarina, à cidade de São Lourenço do Oeste, na região oeste do Estado, mesclam lindas paisagens e um clima bucólico com curvas acentuadas e perigosas. Em dezembro de 2016, esse trajeto passou a fazer parte da rotina dos executivos da Kellogg, multinacional americana que ficou conhecida pelos cereais matinais personalizados no tigre Tony. Na época, a companhia desembolsou R$ 1,4 bilhão para comprar a Parati, fabricante de alimentos, como biscoitos e massas, instalada na pequena cidade de 23 mil habitantes. Passados dezesseis meses do acordo, o município e o mercado brasileiro estão se consolidando como umas das vias mais promissoras para a empresa.

No comando: Steve Cahillane é CEO da Kellogg desde outubro (Crédito:Divulgação)

Aos 52 anos, o americano Steve Cahillane está no comando dessa jornada. “Minha principal missão é fazer com que a empresa volte a crescer”, diz o executivo, que assumiu como CEO global da Kellogg em outubro de 2017. O último avanço na receita foi em 2013, quando a empresa faturou US$ 14,7 bilhões. No ano passado, o faturamento caiu 0,7%, para U$$ 12,9 bilhões. Em contrapartida, o lucro líquido no período saltou de US$ 694 milhões para US$ 1,3 bilhão. “John Bryant, meu antecessor, fez um excelente trabalho de redução de custos e deixou a empresa em ótimas condições para as oportunidades que temos pela frente”, diz Cahillane.

A estratégia da Kellogg é ir além dos cereais e estruturar uma oferta mais aderente aos novos hábitos dos consumidores, que, cada vez mais, buscam uma alimentação saudável, aliada à conveniência. “O velho modelo de três refeições diárias, boa parte delas em casa, ficou no passado”, diz Cahillane, que traz, entre outras credenciais, uma passagem como CEO da The Nature’s Bounty Co., fabricante e varejista especializada em saúde e bem-estar. Se antes um dos motes da empresa era o “win in breakfast” (vencer no café da manhã), agora o foco é mais amplo e passa por biscoitos, lanches, massas e sucos em pó, entre outros produtos. “Hoje, podemos trabalhar diversos momentos de alimentação do consumidor no decorrer do dia, seja em casa, no escritório ou em trânsito”, afirma Maria Fernanda Mejía, vice-presidente global e presidente da Kellogg para a América Latina.

As aquisições são um dos pilares desse movimento. Além de ampliar o portfólio, os acordos buscam fortalecer os negócios nos mercados emergentes, que hoje respondem por 15% da receita global. A compra da Parati já trouxe resultados na operação. Em 2017, a receita da Kellogg na América Latina cresceu 22,3%, para US$ 955 milhões. A Parati contribuiu com US$ 217 milhões. “Nós triplicamos nossa presença no Brasil. Antes, éramos quase uma empresa de nicho no País”, diz Cahillane. Analista da consultoria AGR, Fernando Cardoso aponta o principal ganho do acordo. “No curto prazo, a Kellogg teve acesso um escopo mais amplo e democrático de consumidores, distribuidores e pequenos varejistas no País”, afirma o analista.

Neste mês, Cahillane esteve no Brasil para o lançamento da pedra fundamental da expansão da fábrica instalada em São Lourenço do Oeste, que passará dos atuais 78 mil metros quadrados para 100 mil metros quadrados. A previsão é a de que a nova estrutura entre em operação no primeiro semestre de 2019 e gere 200 novos empregos. O executivo não revela a capacidade atual instalada e qual é a esperada com a conclusão do projeto. Mas observa que o aporte de R$ 215 milhões abre a possibilidade de trazer, no futuro, a fabricação de produtos globais para a instalação, que hoje produz itens do portfólio da Parati. O executivo acrescenta que a companhia não descarta novas aquisições no País. “Muitos dos espaços em branco que ainda temos no portfólio estão em mercados emergentes, como o Brasil”, afirma. “Se houver uma oportunidade para preencher essas lacunas e facilitar a entrada em novos mercados e categorias, vamos participar.” É o tigre querendo mostrar suas garras.