Os setores de mineração e siderurgia atravessaram dias difíceis na primeira metade deste ano. O fechamento de fábricas em todo o mundo e a intensa retração do consumo nas maiores economias do planeta, em decorrência da pandemia, derrubou a demanda tanto do minério de ferro quanto do aço pronto, como em bobinas, chapas e vergalhões. De janeiro a junho, segundo dados do Instituto Aço Brasil, a produção siderúrgica brasileira não passou de 14,2 milhões de toneladas, uma queda de 17,9% sobre os 17,3 milhões de toneladas no mesmo período do ano passado. Na comparação de junho de 2020 com junho de 2019, a queda atingiu 27,9%. “O mundo virou de cabeça para baixo e enfrentamos uma severa crise de demanda”, disse Marco Polo de Mello Lopes, presidente-executivo do Instituto. Para 2020, ele projeta uma queda de 13% nas vendas de aço no mercado brasileiro. No início da pandemia, estimava-se até 20% de queda. “Mais de 80% da demanda de aço está concentrada no setor automotivo, construção civil e no setor de máquinas e equipamentos, todos prejudicados pela pandemia.”

A boa notícia é que, apesar dos resultados ruins no primeiro semestre, a indústria do aço está recuperando sua força. Embora os dados oficiais da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) só devam sair na próxima semana, o setor está crescendo a um ritmo de 30% desde junho, velocidade que deve se manter em todo o segundo semestre. “A recuperação da indústria de transformação e do aço está sendo em formado de ‘V’”, disse Lopes. “Estamos muito otimistas porque o segundo semestre será muito melhor e o mercado vai retomar.”

Empresas consultadas pela DINHEIRO, como Gerdau, Usiminas e NLMK, endossam esse horizonte positivo. A Gerdau, por exemplo, já comemora o crescimento no consumo de aço no mercado brasileiro de 29,4% em junho em comparação a maio, quando também houve uma alta de 19,7% sobre o mês de abril. Com isso, o consumo de junho de 2020 voltou aos mesmos níveis vistos em junho de 2019. “A Gerdau está confiante na retomada da recuperação da demanda por aços longos no Brasil, reflexo da continuidade dos canteiros de obras, evolução das compras no varejo e retomada de projetos de infraestrutura”, informou a empresa, em nota. “Para o setor industrial, vemos uma retomada gradual das atividades dos diferentes setores onde atuamos. Destaque para o bom desempenho do setor eólico e do agronegócio, que registraram níveis altos de atividade nos últimos meses.”

“A fase mais aguda foi superada. Temos tido sucesso em negócios adicionais de exportações” Sergio Leite presidente da Usiminas.

A performance positiva desse segmentos citados pela Gerdau ajudaram a compensar a queda de outras atividades que estão em apuros. Na indústria de transformação, a queda nas exportações tem sido aguda. Automóveis e aeronaves, produtos exportados principalmente para Argentina, Estados Unidos e Europa, registraram queda de 46,3% e 54,3%, respectivamente, em termos de volume vendido, na comparação entre janeiro e julho de 2020 com o mesmo período do ano passado. “Nossa estimativa inicial apontava uma redução das vendas na faixa de 40% a 50%, mas os negócios estão um pouco melhores do que o esperado”, disse Paulo Seabra, diretor-geral da NLMK South America. “Aos poucos, tanto produtividade quando faturamento estão começando a dar sinais de melhora”, afirmou. Segundo a empresa, na comparação entre os meses de abril e maio, houve retração de 15% nas vendas, e no mês de maio a queda chega a 30%, tendo como base o movimento anterior à adoção das medidas de isolamento social por conta da pandemia.

Movimento semelhante ocorre na Usiminas, uma das maiores siderúrgicas do País. Com 85% da produção voltada ao mercado interno, a empresa sentiu o impacto principalmente da paralisação das montadoras, com queda de 16% na produção no primeiro semestre. Mas, segundo o presidente, Sergio Leite, a segunda metade do ano trará recuperação. “A fase mais aguda foi superada. Temos tido sucesso em negócios adicionais de exportações”, afirmou Leite.