No ano passado, o Facebook, maior rede social do mundo, com mais de 2 bilhões de usuários, apostou na interação entre pessoas e empresas no Brasil. Com isso, segundo uma pesquisa interna da rede fundada por Mark Zuckerberg, 75% das companhias presentes na plataforma, a grande maioria de pequeno porte, aumentaram suas vendas. Duas em cada três empresas disseram ter contratado mais funcionários devido ao aumento da demanda. A estratégia, dizem os executivos do Facebook, foi um sucesso e também ajudou a aumentar o engajamento dos brasileiros com a plataforma. Tanto que a rede social recuperou o posto de Marca Mais Forte do Brasil, segundo o ranking As Marcas Mais Valiosas do Brasil, elaborado pela DINHEIRO e pela Kantar Consulting, consultoria de marketing estratégico do grupo britânico WPP.

“Cerca de 125 milhões de pessoas no País estão na plataforma todos os meses, e isso mostra como o brasileiro abraçou o Facebook”, disse à DINHEIRO Conrado Leister, presidente da empresa no Brasil. Nos últimos dois anos, o Facebook havia sido superado como marca mais forte pelo Google, seu arquirrival no mercado digital. Esse ranking considera não apenas a lembrança de marca, mas também se ela é vista pelo consumidor como relevante e se detém algum diferencial.

Trata-se de uma excelente notícia para a rede social, que enfrenta a maior crise de sua história. Em março deste ano, depois de o ranking As Marcas Mais Valiosas do Brasil ter sido fechado, foi revelado que dados de 87 milhões de usuários do Facebook foram usados de forma indevida pela consultoria britânica de marketing político Cambridge Analytica. Essas informações ajudaram a influenciar a eleição presidencial americana, que culminou com a vitória de Donald Trump. Pior: quando descobriu o problema, a rede social não revelou imediatamente o caso às autoridades. Atuou como agravante, ainda, o fato de Zuckerberg ter anunciado, no fim do ano passado, que iria enfrentar diretamente o problema das fake news, até então a grande polêmica a assombrar a rede.

O fundador Mark Zuckerberg compareceu ao Congresso americano para explicar o vazamento de dados (Crédito:Getty Images)

No dia 11 de abril, o empresário teve de comparecer ao Congresso americano para responder a questões sobre como a consultoria conseguiu ter acesso a um volume tão grande de dados sobre as pessoas. “O incidente envolvendo a Cambridge Analytica mostrou que poderíamos ter feito melhor, e estamos totalmente empenhados em corrigir os erros que cometemos”, afirmou Leister. “Estimamos que 443 mil pessoas no Brasil, ou 0,5% do total de pessoas afetadas em todo o mundo, podem ter tido seus dados compartilhados de maneira imprópria com a consultoria. Todas as pessoas afetadas estão sendo notificadas a respeito disso.”

O escândalo derrubou as ações da companhia. Neste ano, ela perdeu 8% do seu valor de mercado, que chegou a US$ 484 bilhões, na quarta-feira 18. Mas a força de sua marca evitou um mal maior: a perda de usuários. “Ninguém deixou de usar o Facebook depois dos problemas”, afirma Sergio Amado, presidente no Brasil do grupo WPP. “A marca é muito forte e o fato de Zuckerberg ter pedido desculpas no Congresso foi positivo.” De qualquer forma, a companhia, que faturou US$ 40,6 bilhões e lucrou US$ 15,9 bilhões em 2017, terá desafios pela frente, a depender dos desdobramentos do caso.

Espera-se, por exemplo, que o mercado de redes sociais seja mais regulado. É algo que já está sendo discutido na União Europeia, onde tramita uma proposta, que pode se tornar lei ainda neste ano, para dar aos usuários mais controle sobre as suas informações. Isso pode dificultar às redes sociais lucrarem com a posse dos dados de seus clientes. Nesse novo cenário, o desafio para o Facebook se manter como a rede mais relevante do planeta não será simples. “Afinal, é uma empresa que depende de sua reputação”, diz Eduardo Tomiya, CEO da Kantar Consulting para a América Latina. A seu favor, no entanto, a companhia conta com a força da sua marca. “Há uma preocupação muito grande com o seu futuro, mas a marca já faz parte da vida das pessoas”, diz Tomiya.