Quando questionados sobre como será ano que vem, muitos empresários brasileiros respondem que, com o presente tão incerto, o futuro fica em segundo plano. Enquanto dentro de suas salas os CEOs e presidentes fazem as contas para fechar o mês, na Avenida Paulista, em São Paulo, outro grupo de líderes já pensa em 2021. Em julho, mais especificamente. Com o anúncio de que o atual presidente Paulo Skaf não será candidato à reeleição da Fiesp, a poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, alguns nomes começam a surgir como potenciais sucessores. O pleito definirá os caminhos da cadeia produtiva em um mundo transformado pela pandemia da Covid-19.

Na disputa pela cadeira que Skaf ocupa desde 2004 estão dois nomes: Josué Gomes da Silva, filho do ex-vice-presidente da República José de Alencar, e José Ricardo Roriz Coelho, atual vice-presidente da entidade. Apesar de estar na atual gestão, Coelho não é o candidato indicado por Skaf – que tem se mostrado mais afeito ao opositor de seu vice. Segundo contas realizadas por membros da Fiesp, com o apoio de Skaf, Josué Gomes da Silva teria ao menos 100 votos dos 114 delegados. A vitória parece folgada. Para reverter essa desvantagem, Coelho precisa provocar uma reviravolta que parece improvável.

O ATUAL vice Ricardo Roriz Coelho Idade: 61 anosOnde atuou: Suzano, Polibras, Vitopel e Basel Entidades: Abiplast e Sindiplast Chances: Não tem o apoio de Paulo Skaf. (Crédito:Karime Xavier)

A corrida começou em agosto, quando Skaf se reuniu com cerca de 30 empresários do ramo industrial para anunciar que não tentaria reeleição em 2021. A saída, que surpreendeu parte dos convidados, já vinha sendo desenhada pelo empresário havia alguns meses, principalmente por conta de rusgas internas no comando da entidade. Alguns desses conflitos se tornaram públicos, expondo críticas a Skaf que teriam partido de Coelho. O executivo preside a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) e o Sindicato da Indústria do Plástico (Sindiplast). Foi diretor-presidente da Suzano Petroquímica, presidente da Polibras e da Vitopel, e fez parte do management team da Basel, empresa formada com a fusão dos ativos da área petroquímica da Basf e da Shell. Para ele, a influência da Fiesp estaria limitada a alguns “poucos empresários”, sendo necessário que a entidade agisse de modo mais “horizontal e atendendo todos os perfis, e tamanhos, de empresas”.

FIM DO CICLO Na presidência da entidade desde 2004, Paulo Skaf se reuniu com 30 empresários para anunciar que não é candidato à reeleição. (Crédito:Bruno Santos)

O ESCOLHIDO Mais sintonizado com Skaf, Josué já chegou a ser citado como potencial candidato à vice-presidência da República em uma eventual corrida envolvendo o emedebista em 2022. Nesse cenário, o posto mais alto da Fiesp fortaleceria um palanque para os potenciais candidatos. Em 2014, Josué candidatou-se ao Senado pelo MDB de Minas Gerais. Não foi eleito. Ficou em segundo lugar, atrás de Antonio Anastasia, então no PSDB e hoje no PSD. No ramo empresarial, ele sucedeu seu pai no comando na Coteminas, ainda em 1996. Ao longo de 24 anos, foi responsável pelo processo de internacionalização da companhia. Dona de marcas como Artex e Santista, ela é hoje é a maior indústria de itens de cama, mesa e banho nas Américas. Tem 15 fábricas no Brasil, cinco nos EUA, uma na Argentina e uma no México. Nascido em Minas Gerais, Josué vive em São Paulo há 35 anos. Presidiu a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção (Abit) e o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

E O PATO? Nos últimos anos, a sede da Fiesp se tornou palco de campanhas com apelo popular, caso do combate à corrupção (simbolizada por um pato) e pela redução de impostos (sapo). (Crédito:Nelson Antoine)

Na avaliação de Roger Montevão, que foi conselheiro da Fiesp até 2018 e hoje participa esporadicamente dos encontros da entidade, a eleição do ano que vem terá um caráter que transcende a questão política. “É preciso pensar que o novo presidente ditará caminhos para os empresários que ainda não sabem como será o futuro”, disse. Na avaliação do ex-conselheiro, a gestão de Skaf foi positiva em muitos aspectos, principalmente na projeção da federação como a mais poderosa do Brasil. “Sabemos do peso político da Fiesp. Mas agora será a hora de mostrar também a capacidade planejamento e liderança na retomada do crescimento”, disse. Entre os temas que ele acredita precisar ser prioridade na nova gestão estão abertura de linhas de crédito para pequenos industriais, cursos de capacitação e requalificação para diminuir o desemprego e uma política de incentivo à sustentabilidade. “O governador João Doria tem se mostrado aberto às negociações com a Fiesp. Precisamos aproveitar esse momento”, disse.

Em uma eleição tão importante, as desavenças são inevitáveis. E elas começaram já no processo de inscrição das candidaturas. Uma das críticas foi o prazo de apenas 20 dias para registrar suas chapas. Até que o pleito ocorra e o resultado seja conhecido, continuará sobre os ombros de Skaf a obrigação de ser uma luz a guiar os empresários. Assumir esse papel a partir de janeiro de 2022, depois de 17 anos sem alternância no cargo, pode ser mais desafiador do que colocar qualquer indústria nos trilhos do novo normal.