A CSN Mineração, subsidiária da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), é a segunda maior mineradora brasileira. Sua jóia da coroa é a mina Casa de Pedra, com reservas comprovadas de três bilhões de toneladas de minério. A empresa possui também outras minas, uma unidade de beneficiamento de minério, participações na ferrovia MRS e no porto de Itaguaí, no estado do Rio de Janeiro. Tudo isso, é claro, vale dinheiro. Mais precisamente, R$ 10 bilhões. Essa é a estimativa do valor que pode ser levantado com uma Oferta Pública Inicial (ou, em inglês, Initial Public Offering, ou IPO) da CSN Mineração. Sua abertura de capital vem sendo discutida há pelo menos dez anos. Agora o negócio deve sair, turbinado pela alta do dólar e do minério de ferro, cotado a US$ 125 por tonelada.

Essa não é a primeira alta do dólar, nem do minério. O que mudou? A resposta é o apetite dos investidores por ações. Neste ano, até setembro, foram realizadas 43 operações de captação na Bolsa, sendo 26 IPOs e 17 ofertas subsequentes de companhias já listadas, os chamados follow-ons. Até agora, o total levantado nessas operações é de R$ 80,8 bilhões, ante R$ 89,6 bilhões durante todo o ano de 2019.

NOVO RECORDE A cifra do ano passado poderá ser ultrapassada. Além da CSN Mineração, a rede de varejo Havan pode movimentar esse montante, o que estabeleceria em R$ 70 bilhões o valor de mercado da empresa de Luciano Hang. “E há pelo menos mais dez operações do setor de varejo em discussão”, disse o diretor de um banco de investimentos muito ativo no mercado. Só com essas duas operações o total do ano pode superar R$ 100 bilhões. Segundo o experiente profissional, no cenário mais otimista os lançamentos de 2020 vão superar os R$ 140 bilhões de 2010. Se confirmada, essa marca será duplamente significativa, pois o recorde de 2010 foi inflado pela oferta subsequente de R$ 120 bilhões da Petrobras.

Há algumas diferenças com o início da década, porém. Ao se observar os dois gráficos, que mostram o número e o valor das aberturas de capital e das ofertas subsequentes ano após ano, é fácil perceber os momentos de euforia (como em 2010) e os de depressão (como em 2015 e 2016). Nos momentos de mau humor do mercado, mesmo as melhores empresas mantinham seus planos engavetados. Ainda que houvesse a possibilidade de listar as ações, o cenário mais provável era que os investidores quisessem pagar pouco. Nos momentos de euforia, mesmo empresas em má situação financeira encontravam interessados. Atualmente, há um equilíbrio entre esses dois pólos. “Agora, os investidores estão mais seletivos”, disse Bernardo Parnes, sócio fundador da empresa de assessoria financeira One Capital. Segundo ele, isso explica alguns lançamentos cancelados, ou outros cujo preço de lançamento é inferior ao piso da faixa indicada no prospecto.

A emissão do banco de investimentos BR Partners é um bom exemplo do primeiro caso. A empresa havia planejado captar até R$ 885 milhões com seu IPO. No entanto, a volatilidade dos últimos dias azedou o apetite dos investidores. A perspectiva de ter de vender as ações por menos do que o previsto levou a companhia a suspender o processo na quarta-feira (23). Já a abertura de capital da incorporadora Cury, subsidiária da Cyrela, é uma demonstração de que os investidores aprenderam a fazer contas. No dia 17 de setembro as ações foram vendidas a R$ 9,35 por ação, 15% abaixo do preço-mínimo da faixa indicativa inicial, que ia de R$ 11 a R$ 14,35.

NOVOS PARTICIPANTES Mesmo tendo saído abaixo do mínimo, o IPO da Cury mostra uma tendência recente nos IPO, que é a abertura de capital de subsidiárias de empresas já listadas, de modo a destravar valor para os acionistas. A Cyrela é o caso mais didático. Além da Cury, voltada para imóveis econômicos, a companhia fundada por Elie Horn vendeu o capital de mais duas subsidiárias, a Plano & Plano, voltada para o segmento Minha Casa Minha Vida, e a Lavvi, dedicada a imóveis de médio e alto padrão. O racional desses movimentos é fácil de entender. Os investidores e analistas preferem empresas fáceis de entender. Uma incorporadora que atue em vários segmentos será menos previsível – o resultado ruim de uma unidade de alta renda pode afetar os bons resultados das demais divisões.

IPO da plano & plano venda de subsidiárias permite destravar valor para os acionistas. (Crédito:Divulgação)

Aberturas de capital na bolsa mostram que os investidores estão mais seletivos, e as empresas podem adotar estratégias de diversificação.

Da mesma forma, a diversificação dos investidores abriu espaço para empresas segmentadas. Isso é mais perceptível no varejo. Se há alguns anos o setor tinha poucos nomes, atualmente o investidor pode escolher entre supermercados como Pão de Açúcar ou Carrefour, lojas de vestuário como Renner ou Marisa, bens duráveis como Magazine Luiza e Via Varejo, e até joalherias como Vivara e redes voltadas para equipamento esportivo, como a Centauro, ou para animais de estimação, como a Petz. Sua abertura de capital, realizada no dia 11 de setembro, foi um sucesso. As ações avançaram 21,8% no primeiro dia e, mesmo tendo recuado nos pregões subsequentes, mantiveram uma valorização de 7,8% até a quarta-feira (23). O mesmo ocorre com as ações da Centauro. Em 12 meses, as cotações avançam 18,5% ante uma queda de 8,5% no índice Bovespa. Sem a diversificação das ações do varejo na bolsa, seria impossível ao investidor lucrar com esses movimentos específicos.