A expressão francesa “crème de la crème” tornou-se referência global de sinônimo de algo sublime. Alguma coisa como “o melhor entre os melhores”. A nata. Nesse raciocínio, não seria exagero dizer que o Porsche 911 é o ícone do ícone. Trata-se do modelo mais célebre e desejado de uma das marcas de automóveis mais idolatradas e respeitadas do planeta. E quando se pega algo extraordinário entre os extraordinários, o resultado não poderia ser outro. Os números parecem rugir, tal qual motor turbinado. De janeiro a abril deste ano, já foram vendidas no Brasil exatamente 455 unidades do 911, colocando o modelo na liderança da montadora alemã, com folga. Em segundo lugar, ficou o Cayenne, com 260 carros comercializados e em terceiro, o Boxster (157).

Traduzindo: o 911 sozinho vendeu mais do que o segundo e o terceiro colocados no ranking somados. Outro dado que escancara a excelente fase do super esportivo. Em todo o ano passado, os brasileiros compraram 238 Porsche 911, praticamente a metade do que já foi vendido apenas nos quatro primeiros meses de 2020. E isso em plena pandemia de Covid-19. “Nossa companhia está numa forte linha de crescimento no Brasil. No primeiro trimestre deste ano, nossas vendas aumentaram 113% em relação ao mesmo período de 2019”, afirma o diretor de Comunicação e Relações Públicas da Porsche no Brasil, Rodrigo Soares. “E o 911 é a grande estrela”.

Mas a montadora alemã tem planos ainda mais ousados para o seu astro maior. Tanto é que resolveu melhorar o que já parecia perfeito. A partir de setembro, desembarca no Brasil a mais nova geração do 911: o Turbo S. É coisa de gente grande. O carro está ainda mais invocado, mas não perdeu os traços que fazem parte da memória daqueles que sonham em ter um desses na garagem. Muitos brasileiros estão nesse grupo.

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“Todas as unidades do primeiro lote que colocamos à venda, no sistema de reservas, já foram compradas”, destaca Soares, sem revelar a quantidade de Turbo S já adquirida no País. E é bom ressaltar que estamos falando de um carro que custa R$ 1,33 milhão.

O mais novo 911 é tão espetacular que faz o preço parecer muito justo. Os engenheiros e os designers da Porsche, de fato, fizeram um trabalho admirável. São muitas as novidades, a começar por um modernoso jogo de faróis e lanternas. A dianteira tem entradas de ar maiores, com dois módulos luminosos e faróis de matriz de LED. Já o sistema de suspensão elabora 200 cálculos por segundo, para permanecer flexível quando possível e firme quando necessário. A harmoniosa combinação de entradas de ar variáveis, spoiler de queixo ativo e uma grande asa acionada eletricamente – parece coisa de Fórmula 1 – produz o equilíbrio ideal entre velocidade, aerodinâmica e segurança.

NOVO MOTOR O comando nas rodas otimiza a rotação em curvas lentas e médias e aumenta a estabilidade em velocidades elevadas. Outra inovação: pela primeira vez, o 911 vem com pneus de dois tamanhos. Na dianteira, eles têm 20 polegadas, enquanto na traseira são 21, conferindo ainda mais agilidade e esportividade ao modelo. E tudo isso empurrado pelo novo motor de seis cilindros opostos e enorme potência. Afinal, o sobrenome Turbo S não foi escolhido à toa. A máquina tem assombrosos 650 CV de força. São 70 CV a mais do que o 911 anterior e o equivalente a mais de quatro vezes o motor de um carro 2.0, que tem potência média de 150 CV.

Isso explica o fato de esse fabuloso bólido ir de 0 a 100 km/h em pífios 2,7 segundos e alcançar a velocidade máxima de 330 km/h – é, mesmo, coisa de Fórmula 1. O melhor é que a engenharia e a tecnologia aplicadas no carro são tão precisas, que você pode dirigir a essa absurda velocidade sem abrir mão do conforto. A beleza e o requinte vistos no exterior também estão presentes dentro do 911 Turbo S.

O modelo tem acabamento de couro e detalhes em carbono, com toques prateados. A lista de equipamentos de série inclui bancos esportivos ajustáveis com 18 regulagens, tela central de 10,9 polegadas e alta resolução, volante esportivo e sistema de som. Por si só, o novo Porsche já atrairia interessados. Mas há de se destacar, também, as ações que a companhia tem tomado, no Brasil e no mundo, para conquistar mais consumidores. No País, por exemplo, está aumentando sua presença física. Das atuais dez concessionárias (Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Recife, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro e São Paulo), a montadora vai expandir para 13. Até o final deste ano, serão inaugurados os chamados Porsche Centers em Fortaleza, Goiânia e mais um em São Paulo.

Além disso, há as atividades especiais que a empresa tem realizado para fidelizar seus clientes e atrair novos, como o Porsche Travel Experience, que promove viagens pelo mundo a bordo de carros da marca, e o Ice Experience, realizada em pistas de gelo (leia quadro à dir.). “A ideia é estreitar o relacionamento com nossos clientes e atrair potenciais compradores”, diz Rodrigo Soares. Com uma fera como o 911 Turbo S nas mãos, essa missão nem parece tão complicada assim.

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Não é aquele rolê de Porsche pela rodovia da sua cidade. Esqueça qualquer semelhança de condução com algum pedaço de asfalto. O lance aqui é outro. O Ice Experience, que vivi no circuito da região glacial de Montreal, no Canadá, é um programa fantástico e único. Pilotei dois modelos do 911: o Carrera S e o 4S. Prova de habilidade ou simplesmente loucura fazer um drifting no maior chão de gelo das Américas.

O mesmo programa também é promovido pela montadora na Finlândia. É diversão na veia. Acelerar na pista alva, travar comandos da eletrônica, praticamente desligar os sensores da nova geração do Porsche 911. Nesse mundo de temperaturas congelantes – no dia do nosso teste, os termômetros marcavam 15 graus negativos –, tudo parece conspirar a favor das manobras. O maior desafio é desviar dos obstáculos, no slalon. Nada de cones no chão. O teste de frenagem e saída imediata é mais tranquilo, desde que o motorista não esqueça o sabão que é uma pista de gelo. Difícil mesmo é aceitar que a brincadeira tem hora para acabar. A combinação de máquina perfeita com cenário de natureza encantadora nos faz querer repetir a dose e dá a certeza de que vale a pena investir os US$ 5 mil (cerca de 28 mil) que custa o Porsche Ice Experience. É o tipo de coisa que, ao final, faz a gente dar aquele suspiro de prazer.

Jorge Moraes,
Especial para a DINHEIRO.