O conceito não mudou muito. É o velho pião de sempre. Arremessado ao chão com a ajuda de um barbante, ele fica girando por alguns instantes até perder a força e parar. Os meninos de hoje só o conhecem de ouvir o pai falar. E preferem ficar com o videogame mesmo. Ou melhor, preferiam. O antigo brinquedo, que tem origens na pré-história, ganhou design arrojado, cores vibrantes, novos materiais, diferentes formatos e virou uma coqueluche internacional. Tudo por causa de um desenho animado japonês chamado BeyBlade. Ele é exibido em horário nobre pela rede ABC americana, chegou ao Brasil em outubro e já é o campeão de audiência do canal a cabo Fox Kids. A cada episódio, um grupo de crianças liderado pelo herói Tyson percorre o mundo participando de batalhas de piões. Como numa briga de galo ?light?, dois competidores lançam seus piões numa arena, e o que for jogado para fora ou parar de rodar primeiro, perde. Acrescentem-se ingredientes bem japoneses como poderes mágicos, misticismo, piões que se transformam em dragões, águias, tartarugas gigantes e pronto: o ?vírus? pulou das telas para as prateleiras e contaminou o mercado mundial de brinquedos.

 

O pião BayBlade é o hit deste Natal. Inclusive no Brasil, onde o brinquedo original ainda nem chegou e os consumidores mirins têm que se contentar com imitações chinesas (há pequenos varejistas vendendo mais de mil unidades por dia). Inventado no Japão e hoje fabricado pela gigante americana Hasbro, o BeyBlade apareceu em fevereiro nos EUA, durante a Toy Fair de Nova York. Executivos da Estrela, parceira da Hasbro no Brasil, estiveram lá, viram o pião, mas preferiram não apostar nele. Acharam que sem o gatilho do desenho animado na TV ? na época não havia previsão para sua estréia por aqui ?, o brinquedo não teria força. Raciocinaram certo, mas se deram mal. A concorrente Glasslite entrou no vácuo, investiu R$ 200 mil no desenvolvimento de sua versão caseira, o BionicBlade, e está fazendo a festa. ?Implantamos o terceiro turno na fábrica e, entre outubro e o Natal, vamos vender mais de 250 mil piões?, comemora Ricardo Cruz, gerente de marketing da Glasslite, que já tem 32 modelos diferentes.

O alvoroço promete crescer no começo de 2003. É que a TV Globo também deve exibir o seriado japonês e, assim, popularizar de vez o brinquedo. As portas se abrirão não só para a Estrela, que deve ficar com a licença para produzir o BeyBlade original no País, como para a agente Exim. A empresa já assinou contrato com a canadense Nelvana, dona dos direitos mundiais da marca, para licenciar alimentos, roupas, material escolar e o próprio pião em toda a América Latina. ?Nossa expectativa é que o BeyBlade seja tão ou mais popular que o Pokémon, o último grande sucesso entre a garotada?, diz Sandra Zanini, gerente de marketing da Exim. O também japonês Pokémon, criado em 1998, já rendeu mais de US$ 7 milhões em licenciamento no mundo todo (R$ 2 milhões no Brasil). Diz-se no mercado que um arrasa-quarteirões desse porte só acontece a cada cinco anos. É a hora do BeyBlade, portanto.