De janeiro para cá o dólar disparou, o Banco Central elevou as taxas de juros e a situação na Argentina tem infernizado os indicadores econômicos. Esse quadro todo, que colocou em estado de alerta governo, economistas e empresários, não impediu, porém, que os aparelhos de DVD realizassem uma façanha e tanto: seus preços caíram ladeira abaixo, e as vendas dos equipamentos dispararam ? apesar de 75% de suas peças serem importadas e supostamente sujeitas a reajustes. É o milagre do aumento da oferta exorcizando o fantasma da remarcação da indústria eletroeletrônica. ?Para se ter uma idéia, os fabricantes de aparelhos de DVDs devem vender este ano mais de 500 mil aparelhos, contra os 195 mil do ano passado?, prevê Mário Kudo, diretor de marketing da LG. Os números têm se aproximado rapidamente dos 1,2 milhão de videocassetes comercializados ao ano no Brasil, sendo que dentro de quatro anos é quase certo que os DVDs irão superar os aparelhos de vídeo, assim como os leitores de CDs substituíram as vitrolas no início da década de 90. Na rede Eletro, do grupo Pão de Açúcar, a venda dos DVDs entre janeiro e abril deste ano representou 70% de toda a receita obtida pelos aparelhos em 2000. ?Os videocassetes só não vão desaparecer tão rápido porque muita gente vai usá-los para assistir às fitas de suas filmadoras. Mas as câmeras de DVDs também desembarcarão no mercado em poucos anos?, avalia Kudo.

O mercado é promissor. Neste ano, estima-se que o segmento de DVDs movimentará cerca de R$ 300 milhões. Por isso mesmo, os fabricantes têm travado uma guerra de preços para conquistar boas fatias de consumidores. A Gradiente, por exemplo, baixou no último dia 4 o preço de seu modelo mais barato de R$ 699 para R$ 499, ao mesmo tempo que a Semp Toshiba reduzia de R$ 739 para R$ 599. A LG só ainda não mexeu nos R$ 549 que recomenda às lojas porque está testando a resistência da concorrência no uso de valores tão baixos. ?Queremos saber se essa não é uma estratégia voltada apenas para o Dia das Mães.

Se os preços seguirem em baixa, a LG também acompanhará o mercado?, declara Kudo. A Gradiente garante que sua estratégia é definitiva. Em 12 meses, a companhia baixou o valor do equipamento mais barato de R$ 1,1 mil para menos da metade. ?Conseguimos essa façanha ao renegociarmos os custos com os fornecedores. A redução no uso de peças por aparelhos também contribuiu?, afirma Eduardo Toni, gerente de marketing da companhia. O aumento mundial no volume de encomendas de DVDs tem ajudado muito a manobra. Os Estados Unidos, por exemplo, adquiriram somente no ano passado 8 milhões de aparelhos DVDs. Pelas leis da economia, quanto maior a produção menor o custo final dos produtos. E como os fornecedores de peças eletrônicas são globalizados, a tendência é de queda geral nos preços.

Um dos sinais mais evidentes de que a nova onda conquistou a classe média é a alta na comercialização de filmes no formato digital. Na 2001 Vídeo, uma das principais locadoras e varejistas de títulos do País, nada menos do que 92% das vendas de filmes são no formato DVD. ?A digitalização elevou em muito a qualidade das imagens e muitos clientes preferem agora adquirir os títulos, em vez de alugá-los?. Assim como os preços dos equipamentos de vídeo e DVD estão muito próximos ? um videocassete sai por volta de R$ 300 ?, os filmes digitalizados também não vão para as lojas com valores absurdos. Saem por volta de R$ 35, contra os R$ 22 de uma fita. Têm a vantagem de muitas vezes incluírem material adicional, como cenas de bastidores das gravações. A caixa do título Gladiador, por exemplo, inclui dois DVDs: um com o filme e outro com documentários sobre o trabalho da megaprodução. Tanta parafernália indica que o bom e velho videocassete deve mesmo entrar para o hall das relíquias do século passado.