Passados 932 dias do atual governo federal e outros 491 desde que o Brasil passou a adotar protocolos de isolamento social para controlar a pandemia da Covid-19, falar em ESG – acrônimo adotado no mercado financeiro para analisar boas práticas ambientais, sociais e de governança – sob a ótica da Nação, é como conversa de louco: não tem sentido.

Comecemos do fim para o início. O G seria de Governança, mas a depender do ponto de vista que se olhe, por aqui deveria ser D de Desgovernança. Vide a pataquada da Campanha de Vacinação contra o coronavírus que a CPI escancarava ao brasileiro antes de entrar em recesso: reuniões paralelas, erros nos destinos das doses, suspeitas de corrupção em todos os escalões, e por aí vai. Fica ainda mais revoltante porque a falta de organização, além de ser em área de saúde pública, aconteceu em um processo no qual o Brasil tinha excelência comprovada via Programa Nacional de Imunizações. Pormenor relevante, o Brasil supera meio milhão de mortos pela doença.

Cobranças do mercado impõem agenda ESG

No S de social, a situação é desalentadora. Levantamento realizado pela revista científica Lancet aponta que mais de 130 mil crianças brasileiras de até 17 anos ficaram órfãs como efeito colateral da Covid-19 entre março do ano passado e abril deste ano. Para a população adulta, o problema social é um vazio econômico. Em dados atualizados, 15 milhões de brasileiros estão desocupados e 6 milhões desalentados – aqueles que mesmo sem renda, desistiram de procurar emprego. Junte ao quadro pitoresco, 113 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar, um grupo de cidadãos que não sabe se terá o que comer na próxima refeição.

Os números acima derrubam os argumentos de quem defende que a preservação ambiental é concorrente direta do desenvolvimento econômico. Se assim fosse o Brasil estaria batendo recorde de riqueza. O que nos leva ao fracasso do S de sustentabilidade. Nos últimos 11 meses, a Amazônia perdeu 8.381 km² de florestas, 51% a mais dos já significativos 5.533 km² registrados entre agosto de 2019 a junho de 2020. Crime ambiental que deveria ser inibido com rigor, mas que na prática não acontece. Levantamento feito por professores da Universidade Federal de Minas Gerais e publicado pelo O Estado de S. Paulo mostra que o valor arrecadado pelo governo com multas ambientais na Amazônia nos últimos dois anos caiu 93%.

Diante da realidade, tão inevitável como lembrar do enredo da União da Ilha do Governador de 1978 (Como será o amanhã? Responda quem puder. O que me irá me acontecer? O meu destino será como Deus quiser”), é torcer para que o Brasil não acabe em samba.