Na esquizofrênica gestão econômica do presidente Bolsonaro, as Forças Armadas merecem mais dinheiro do que o setor de Educação. Aliás, tem de ter aumento de verba. E gordo. Já a Educação, assim como a Saúde, precisam cortar seus “gastos”. Não são prioritários. E é efetivamente o que está ocorrendo na peça orçamentária que o capitão mandou elaborar para ser entregue ao Congresso dentro de alguns dias. O Governo tem até 31 de agosto para mostrar como irá distribuir os recursos do Estado no exercício de 2021. E, pelo sabido até aqui, as decisões são de estarrecer. Educação e Saúde sofrerão cortes consideráveis, de 13% e de 5% nas respectivas verbas. A Defesa, por sua vez, terá reajuste para cima de nada menos que 48,8%, elevando o montante reservado à pasta para uma cifra de R$ 108,56 bilhões, ante os R$ 73 bilhões destinados neste ano. O valor total ainda é R$ 5,8 bilhões superior ao dado para a Educação, numa inversão de prioridades sem o maior cabimento ou senso de responsabilidade com as reais necessidades da Nação. É a primeira vez na década que a pasta da Educação tem um orçamento federal inferior ao da Defesa. E isso se dá exatamente em nome de quê? Por acaso estamos prestes a uma nova Guerra do Paraguai? Precisamos nos armar para algum conflito iminente ainda não plenamente conhecido? O que poderia estar levando a tamanha distorção? Prevalece, é claro, nas movimentações o interesse indisfarçável do presidente, que protege a caserna, seja por motivações corporativistas ou em busca de uma pseudo proteção que sustente o seu governo. É uma visão tacanha da estratégica equalização dos recursos que o Estado precisa fazer para prover as demandas sociais. Em campo para uma campanha eleitoral fora de hora, o mandatário faz escolhas de acordo com as próprias conveniências. Adia reforma administrativa para não contrariar, nem demitir, servidores públicos. Concede aumento a categorias que lhe são simpáticas. Planeja engordar o programa assistencialista do Renda Brasil para angariar votos e dispensa setores fundamentais que serão tolhidos no seu planejamento. Justamente em meio a uma pandemia, o Governo despendeu uma ínfima parcela do reservado chamado “Orçamento de Guerra” para enfrentar a doença. Distribuiu erroneamente a verba extra. Agora, assume a intenção de um “controle menos rígido” sobre o teto de gastos. Bolsonaro, com o reforço e torcida dos demais ministros, quer gastar. Montar “outdoors” de marketing da gestão. Pediu ao ministro Paulo Guedes recursos extras para tocar obras em andamento. Precisa aumentar o número de inaugurações para mostrar que faz algo. Para ele, o problema do estouro das contas pode ser resolvido mais adiante. Quem sabe, bem lá na frente, por um eventual sucessor. Ele precisa gastar. E o orçamento de 2021 vai refletir essa sanha.

Carlos José Marques, diretor editorial