Saiu a conta do rombo com despesas populistas do governo para garantir voto na urna a Bolsonaro. E ela não é pequena. A ponta de lança é o programa assistencialista do Bolsa Família, rebatizado para não parecer coisa do arquirrival Lula, mas com a mesma intenção de angariar simpatizantes no rebanho de incautos da baixa renda. Nesse campo, o mandatário quer entuchar R$ 25 bilhões a mais de valor, somado aos atuais R$ 35 bilhões, considerando assim um valor fixo da ordem de R$ 400 reais para cada beneficiário, cerca de 50% a mais do pago hoje em dia. É absurdo! Orçamentariamente não tem de onde tirar. Bolsonaro tenta revestir o Bolsa Família de firulas variadas para acenar com bondades suas, visando especificamente o ano da eleição. Depois que ganhar no voto verá como fica. Estelionato eleitoral é o nome da prática. Na conta de generosidades vem mais ainda: cerca de R$ 26 bilhões em incentivos ao diesel, para amainar a ira dos caminhoneiros. Outros
R$ 7,7 bilhões em descontos tributários. Mais R$ 5 bilhões, pelo menos, em aumento do funcionalismo. O vale-gás de R$ 3 bilhões. No total, a conta da farra deverá ultrapassar os R$ 67 bilhões em desembolsos adicionais e perda de arrecadação, justamente em um tempo no qual falta dinheiro para a máquina. E aqui não estão contabilizados os R$ 41 bilhões em emendas parlamentares, muitas das quais clandestinas, e os R$ 5,7 bilhões do Fundão Eleitoral. É razoável a intentona? Claro que não. Mas não importa para o capitão, cujo empenho absoluto é o de se manter no poder. O Estado pode quebrar, mas ele faz de tudo para não ser apeado da cadeira. Muitos especialistas em políticas públicas vêm apontando que o movimento do governo com o novo “Auxílio Brasil” — nome de batismo da maquiagem assistencialista em curso — na prática desfigura um modelo que vinha funcionando. O Bolsa Família foi aperfeiçoado e melhorado ao longo dos últimos 18 anos. Possui sistemática, método e logística já estruturados. Substituindo a sua essência por algo que nunca foi testado, a tropa do mandatário pode estar destruindo um formato de atendimento vencedor por outro que tem grandes chances de não dar certo. Ainda mais porque não conta, sequer, com valor definido de benefício. Os técnicos enxergam com preocupação a ameaça. Atualmente são 39 milhões de pessoas recebendo o Bolsa, que alinha todos os programas de transferência existentes antes. A proposta em andamento desmonta essa lógica. Para o estudioso do assunto Ricardo Henriques, a ideia levada a cabo pelo atual governo é um “não-programa social”. Segundo ele, está claro que os coordenadores do projeto não entendem a complexidade da política social e fazem algo de qualquer jeito, com pouca habilidade para a execução, apenas no intuito de atender às pretensões do Messias.

Carlos José Marques, diretor editorial