Em um país com 10,1 milhões de desempregados, que correspondem a uma taxa de 9,3% de desocupados segundo o IBGE, salta aos olhos qualquer iniciativa educacional que gere resultado de pleno emprego. É o caso da Universidade Presbiteriana Mackenzie, que lançou neste ano o curso Dual Study do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas, que tem 30 alunos bolsistas matriculados, todos contratados por empresas em regime CLT antes mesmo de iniciarem as aulas. O projeto inovador é o único com essa característica e resultados no País. “Esse modelo faz toda a diferença para o mercado. As empresas resolvem uma demanda importante, ao receberem um formando preparado para gerar resultados desde o início”, afirmou Claudio Parisi, diretor do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas da universidade.

Dos 30 estudantes que ingressaram no curso no começo deste ano, 24 têm 100% do valor das mensalidades cobertas pelas empresas parceiras e seis possuem 50%. Alguns, além de terem os estudos pagos pelas companhias, também recebem salário pelo estágio. Isso ocorre pelo modelo diferenciado proposto pelo curso. É uma relação B2B entre a Mackenzie e as empresas, que custeiam os estudos dos alunos durante os quatro anos da graduação. As companhias, inclusive, montaram a grade curricular juntamente com os docentes da faculdade. Houve, por exemplo, a junção de aulas de tributos e de contabilidade de custos em uma única disciplina.

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“Esse modelo Dual Study faz toda diferença para o mercado. As empresas resolvem uma demanda importante” Claudio parisi, diretor do CCSA.

Os estudantes passam por várias etapas de seleção. A primeira delas é o vestibular tradicional. Depois são realizadas apresentações das empresas, que mostram seu trabalho e os benefícios que os universitários terão. Há ainda uma dinâmica de grupo e por fim são realizadas as entrevistas individuais das companhias com os potenciais estagiários. Mas não é apenas a empresa que escolhe os alunos. Os estudantes também selecionam quais empresas encaixam melhor em seu perfil. Uma consultoria de RH auxilia no processo até o match entre as partes. A partir da definição de onde irão atuar cada um dos 30 bolsistas, começam as aulas. O primeiro semestre é todo dentro da universidade. Os outros sete semestres são divididos da seguinte maneira: três meses de atividades acadêmicas em tempo integral e três meses de estágio na empresa. Do quinto semestre em diante são realizadas aulas em inglês, para os futuros profissionais estarem aptos a trabalharem com relatórios internacionais e se integrarem com equipes sediadas em outros países.

As avaliações são mensais, tanto por parte da universidade quanto dos tutores das companhias envolvidas, em um modelo de educação compartilhada, inspirado em uma experiência do período pós-Segunda Guerra Mundial na Alemanha. A Câmara Brasil-Alemanha é a promotora do curso junto com a Mackenzie. Entre as companhias parceiras estão Rödl & Partner, Abordin, Across, Consulcamp, Domingues e Pinho Contadores, Henkel, KPMG e Ziehl-Abegg. A Rödl & Partner inclusive é uma das idealizadoras do projeto. Liliane Cristina Segura, coordenadora do curso de Ciências Contábeis do Mackenzie, disse que, apesar de concorrentes no mercado, as empresas parceiras se ajudam no projeto. “Temos tópicos específicos, como LGPD e processos internos, e cada uma treina todos os alunos, para mostrar como fazem para melhoria do ensino de contabilidade. Não costumamos ver isso no Brasil.” As inscrições para a segunda turma abrem no próximo dia 24.

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“Temos tópicos específicos como LGPD e processos internos, e cada uma [das empresas] treina todos os alunos” Liliane Segura, coordenadora.

Para Claudio Parisi, o curso também auxilia na retenção de talentos, pela integração que há entre o aluno, universidade e empresa. “A pandemia tornou o mercado de trabalho global, com brasileiros atuando de sua casa em companhias norte-americanas, da Europa ou da Ásia, recebendo em dólar ou euro. O Dual Study é grande oportunidade para o Brasil reter seus talentos.” E, com laços criados e carreira nas companhias, podem ser formados futuros CEOs. “Essa é a lógica”, disse Liliane.

100% dos alunos têm bolsas pagas pelas empresas parceiras da mackenzie, que firmaram contratos de 4 anos com a universidade

INTERNACIONAL Além de formar executivos para o mercado interno, a Mackenzie também investe na internacionalização de carreiras e desenvolve projetos com bigtechs, incentiva alunos, professores e colaboradores em intercâmbios. Recentemente, inaugurou um centro de orientações, o EducationUSA, para facilitar o acesso a universidades dos Estados Unidos. O projeto começou em 2017 e já teve 842 alunos envolvidos – 749 da graduação e 93 da pós –, que contaram com subsídio de grandes agências de fomento nacionais e internacionais. Em 2019, foram captados R$ 10 milhões para esse projeto. Em 2021, R$ R$ 36 milhões. A meta é chegar a R$ 200 milhões nos próximos anos.