Dois segundos e meio é o tempo que um carro de Fórmula 1 leva para atingir 100 km/h. Em uma parada brusca, os freios do bólido ficam incandescentes e alcançam 1.000º C. A carroceria do automóvel é confeccionada em fibra de carbono, material mais leve e resistente do que o alumínio e o aço. Não há dúvida: no mundo da Fórmula 1, tudo existe para testar o limite entre velocidade e resistência. Este é o ambiente escolhido por grandes corporações como Hewlett-Packard, Mercedes-Benz, TAG Heuer, Bridgestone Firestone e Petrobras para experimentar produtos de ponta antes que cheguem ao consumidor final. Estima-se que só a empresa brasileira gaste US$ 4 milhões por ano com patrocínio e desenvolvimento de combustível para a BMW Williams. ?É um grande laboratório de produtos?, diz Andrew Collis, diretor global de Sports Sponsorships da HP, a principal patrocinadora da equipe BMW Williams de F1.

A HP fornece uma série de traquitanas e soluções de imagem que são fundamentais para a escuderia inglesa no desenvolvimento dos carros. Além disso, alguns aparelhos mais comuns são testados durante toda a temporada. É o caso das pequenas impressoras de fotos digitais HP Photosmart 375. Elas são submetidas à exaustão pelos pilotos e engenheiros na hora de imprimir as melhores fotos dos treinos e das corridas. ?Só este ano foram mais de 27 mil fotos impressas sem problemas?, diz Collis. Os produtos desenvolvidos nos boxes das principais escuderias, é claro, tornam-se objetos de desejo. Da parceria entre a Mercedes-Benz e a McLaren surgiu um deles. As duas trabalharam em conjunto para lançar o SLR McLaren, um carro de passeio com mecanismos usados na F1. A máquina, com 626 cavalos de potência, alcança 334 km/h e custa US$ 800 mil. A carroceria, por exemplo, é confeccionada em fibra de carbono, o mesmo material usado nos carros de corrida. As pastilhas do freio são em cerâmica, o que garante mais eficiência em uma frenagem brusca. A troca de marchas também recebeu atenção especial dos engenheiros da McLaren. Há três opções de câmbio: sport, supersport e race, esta última igual ao dos bólidos de F1.

Outra empresa, aliada à McLaren, a lançar um produto inspirado na F1 é a suíça TAG Heuer. A fabricante de relógios, que trabalha em conjunto com a equipe inglesa no sistema de telemetria, criou o modelo Monaco V4 em alusão ao famoso Grande Prêmio na Riviera Francesa. Ele ainda não foi lançado no mercado mas promete revolucionar a indústria. Em vez de usar engrenagens posicionadas lado a lado, nas quais o movimento circular de uma movimenta a outra, o seu funcionamento é semelhante ao motor de um carro. São usadas correias que mantêm os eixos em perfeita sincronia e garantem mais precisão.

Mas não são apenas os produtos glamourosos que ganham destaque. A indústria de pneus é uma das que mais investem no automobilismo e transportam a tecnologia para as ruas. Os engenheiros da Bridgestone Firestone criaram a uni-T, um mecanismo que permite a produção de pneus com materiais que suportam uma temperatura superior a 100° C. ?A Fórmula 1 é a que mais exige tecnologia entre as provas de automobilismo?, diz Antonio Pizzonia, piloto de testes da BMW Williams de F1 durante o Grande Prêmio do Brasil realizado na semana passada. Isso acontece porque a modalidade é a única a exigir que as próprias equipes construam os carros. Para isso, contudo, elas trabalham em parceria com grandes corporações. Estima-se que o gasto anual das equipes de ponta seja de US$ 200 milhões. Uma pequena cifra diante das novidades tecnológicas que já surgiram entre uma tomada de tempo e outra.