No final de janeiro, a gestora Robeco, sediada nos Países Baixos, colocou a SLC Agrícola, uma das maiores produtoras de grãos do Brasil, em sua lista de exclusão de investimentos após relatos de violações ambientais no Brasil em suas fazendas. A notícia foi veiculada pela jornalista Camila Ramos, do Valor Econômico.

A gestora afirmou que a decisão foi tomada após o conhecimento de multas ambientais contra a SLC e de denúncias de ONGs relacionando à companhia ao desmatamento de milhares de hectares. A Robeco gerencia 200 bilhões de euros em ativos no mundo.

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O que mais chama a atenção é que a atitude da gestora holandesa ocorre em um momento de intensificação do escrutínio de reguladores europeus sobre clientes e financiadores de empresas responsáveis por violações socioambientais.

Entretanto, no Brasil, as ações da SLC na B3 seguem integrando o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), o Índice Carbono Eficiente (ICO2) e o Índice Great Place to Work (IGPTW).

Não é de se espantar. A Americanas, quando da revelação da suposta inconsistência contábil, também integrava o ISE e o Novo mercado na B3.

A proposta do novo mercado consiste em reunir as empresas da bolsa que possuem as melhores práticas de governança, no sentido de dar mais proteção e transparência aos investidores minoritários.

Entretanto, uma das primeiras afirmações do ex-CEO da Americanas aos investidores foi de que encontrou “sinais’ (negativos) quanto ao nível de transparência.

A Robeco dá a lição de um necessário avanço no Brasil. Muito além dos checklists e formulários é preciso visão holística, mais abrangente. Uma gestora nos Países Baixos consegue reunir elementos a ponto de não aportar mais recursos em uma empresa brasileira, mas os órgãos de regulação brasileiros não conseguem chegar à mesma conclusão?

A Robeco utilizou evidências e materialidade objetiva, externas e, obviamente, diferentes das fornecidas pelas próprias companhias. Detalhe mais importante: conseguiu captar diversas denúncias da sociedade civil, ou seja, não ficaram presos à bolha das informações formais corporativas, que muitas vezes distorcem a realidade apresentando um mundo ideal.

Mas o contexto da ação da Robeco é o arroxo dos órgãos reguladores da Europa. Não é possível esperar que apenas os fundos de investimento, ainda que tenham uma grande influência, deem as diretrizes e fiscalizem o cumprimento dos compromissos assumidos pelas empresas.

O aparato regulador precisa avançar, seja pela sustentabilidade do próprio mercado de capitais brasileiro, seja pelo ambiente de insegurança e fuga de investidores que acaba por impactar a sociedade como um todo.

Se a diligência empregada pela Robeco for utilizada pelos reguladores brasileiros, certamente já estaremos diante de um grande avanço em direção a um compromisso real, não das empresas, mas daqueles que tem o dever de proteger o mercado, os investidores minoritários e, principalmente, fazer cumprir a legislação vigente.