Nada melhor do que uma retumbante vitória esportiva para espantar o mau humor dos espanhóis com a grave crise econômica do país. Ao levantar pela segunda vez o troféu do Aberto de Wimbledon no domingo 4, o jovem tenista Rafael Nadal reacendeu a chama nacionalista e aumentou as esperanças da Espanha de vencer sua primeira Copa do Mundo de Futebol, na África do Sul.
 

76.jpg
Tenho fome: desempregado pede esmola em Pamplona (à dir.) e grevistas em Bilbao são revistados 
pela polícia basca. São os retratos de um desemprego que atinge quatro milhões de espanhóis 

No dia seguinte, satisfeito, o chefe do governo, o socialista José Luis Rodrigues Zapatero, fez até piada sobre o crescente custo de financiamento da dívida pública, que era igual ao da Alemanha e ficou dois pontos percentuais mais caro nos últimos dias diante da ameaça de rebaixamento da nota de crédito do país pela agência Moody’s.

“Creio que vamos superar o diferencial com a Alemanha na quarta-feira”, brincou Zapatero, numa alusão ao jogo marcado entre as duas seleções europeias. De fato, a Fúria confirmou o favoritismo, mandou os alemães para casa e se classificou para disputar a final da Copa com a Holanda, no domingo 11.

Passada a efêmera alegria do gol, sobrou raiva e decepção. A Espanha, bola da vez na crise da dívida europeia, é o retrato mais triste de um continente em crise e tem poucos motivos para comemorar.
 

74.jpg
 

Depois de sua economia crescer 3,5% ao ano, em média, por 15 anos, o país estagnou desde 2008 e não deve sair do atoleiro tão cedo. As últimas estatísticas de desemprego, reveladas dias antes das vitórias nas quadras inglesas e nos campos sul-africanos, revelam uma Espanha paralisada. A taxa de desocupados chegou a 19,9%, o dobro da média registrada na zona do euro. Há quase quatro milhões de espanhóis sem emprego. Em junho, a lista diminuiu em 83 mil pessoas. Para o governo, o pior já passou. Será?

Toda economia é movida a expectativas e, na Espanha, o clima é de pessimismo. Recente pesquisa divulgada pelo jornal El País mostrou que 89% da população considera negativa (ruim ou muito ruim) a atual realidade econômica.

“A situação é catastrófica e não pode piorar”, afirmou Marina Castaño, presidente da Fundação Camilo Jose Cela. O PIB caiu 3,6% em 2009, deve encolher mais 0,4% em 2010 e só voltará a crescer em 2001 – ainda assim, míseros 0,6%, segundo as previsões do Fundo Monetário Internacional divulgadas na quinta-feira 8.

Na zona do euro, a taxa de crescimento deve ser de 1% neste ano e 1,3% no próximo, bem abaixo da média mundial, de 4,6% e 4,3%, respectivamente (veja gráfico abaixo). Alemanha e França sairão do terreno negativo em 2010 e crescerão 1,6% em 2011.

75.jpg

 

É quase três vezes a taxa da Espanha, mas não é muito. Os Estados Unidos, epicentro da crise de 2008, devem registrar alta de 3,3% neste ano e 2,9% no próximo. Enquanto isso, a América Latina firma-se como um dos motores do crescimento.

Esta semana será decisiva para o governo espanhol emplacar as reformas que precisa fazer. Na quarta-feira 14, o primeiro-ministro José Luis Rodrigues Zapatero fará o discurso sobre o estado da nação e buscará apoio para mudanças no mercado de trabalho e na Previdência. Depois de cortar despesas públicas e aumentar impostos, vencer este jogo será mais difícil do que derrubar a Holanda na final da Copa.