Uma combinação de confusões políticas, efeitos climáticos e até mesmo o desempenho da Volkswagen, maior montadora alemã, colocam a Europa na posição de vilã do PIB global neste ano. As previsões para o bloco são os principais motivos por trás da redução da expectativa de crescimento mundial traçada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para 2019. Em novembro, a estimativa era de 3,5%. No mais recente relatório, divulgado na quarta-feira 6, a projeção caiu para 3,3%. Os impasses se acumulam por todo o continente europeu, mas ainda que um desempenho menor fosse de fato esperado, o nível da revisão chama a atenção dos analistas: o PIB não crescerá 1,8% e sim 1%.

Na Itália e no Reino Unido, os problemas são políticos. No primeiro, a coligação populista liderada por Giuseppe Conte tem gerado insegurança ao não dar indicações claras sobre as trajetórias monetária e fiscal. A previsão do país saiu de crescimento de 0,9%, em novembro, para recessão de 0,2%. Agora, os britânicos estão às voltas com o impasse do Brexit. As projeções caíram de 1,4% para 0,8%. Já a Alemanha, que sempre demonstrou mais firmeza econômica que o restante do continente, passou por uma seca no meio do ano passado e foi fortemente afetada pelo escândalo da Volkswagen. A companhia admitiu manipular os controles de emissão de carbono dos carros, o que repercutiu nas vendas.

Tudo isso gerou incertezas que adiaram investimentos. “Os números europeus mostram perda de confiança”, afirma Luiz de Mello, diretor de políticas do Departamento de Economia da OCDE. “A Alemanha é muito integrada ao mercado mundial. Fica suscetível a choques comerciais como os que se viram em 2018.” Somado à desaceleração europeia, há ainda impasses comerciais entre as potências chinesa e americana. E o Brasil não passará incólume. Pelos dados da OCDE, o PIB deve ficar em 1,9%, contra 2,1% da previsão anterior. Trata-se de um número mais realista do que vinham sinalizando os analistas – até fevereiro, o mercado sustentava alta de 2,5%. Com o pibinho de 2018, o dado foi revisado para 2,3%, segundo o mais recente boletim Focus.