O Brasil é um dos mercados mais pujantes em matéria de artigos de luxo. Apenas o segmento de perfumes movimentou US$ 80 milhões em 2005, um crescimento de 22,5% em relação ao período anterior. Quem dá as cartas nessa arena são ícones estrangeiros do porte de Dior, Givenchy, Chanel, Kenzo e Azzaro. Pelo menos até agora. É que a direção da brasileiríssima O Boticário decidiu entrar nessa guerra. E a arma para seduzir as consumidoras endinheiradas é o Lily Essence. Um produto, sem dúvida, diferenciado. A começar pelo processo artesanal de obtenção do óleo essencial, extraído de flores de lírio. A técnica foi desenvolvida com o auxílio de pesquisadores da Universidade de Campinas (Unicamp-SP). E a embalagem, cujas linhas expressam a fusão entre o barroco e o moderno, leva a assinatura do designer francês Juan Carlos Rustarazzo. Trata-se de um projeto que apenas no primeiro está orçado em R$ 5 milhões. Essa bolada inclui os gastos em desenvolvimento e os investimentos em marketing, além da criação de nichos e vitrines específicas nas 2,4 mil lojas da marca espalhadas pelo Brasil. O tamanho da aposta é proporcional ao apetite da empresa. ?O Lily Essence deverá responder por cerca de 20% das vendas de nossa divisão de perfumes femininos?, estima Artur Grymbaum, vice-presidente de O Boticário. O executivo, contudo, não revela o impacto no faturamento global deste ano, previsto em R$ 750 milhões.

 

Apesar de reconhecer o poder de fogo da companhia brasileira, gestores de grifes estrangeiras não se mostram preocupados com a chegada da nova concorrente. ?Apesar de suas qualidades, o Lily Essence não deverá afetar a trajetória de nomes consagrados?, opina um executivo de uma corporação francesa que pediu para não ser identificado. ?Até porque, as consumidoras que buscam requinte e sofisticação não abrem mão das grifes tradicionais?, completa. O vice-presidente de O Boticário diz que não bem assim. Ele argumenta que a brasileira também é um ícone global. Já que possui uma rede de 49 lojas franqueadas no exterior e comercializa seus perfumes, loções e cremes em um total de 1002 pontos-de-venda espalhados por 24 países das Américas, Europa e Ásia. Além disso, acaba de abrir uma filial em Nova Jersey (EUA) e se prepara para entrar na Itália. Para Grymbaum, mas do que brigar com Channel e Givenchy, a função do Lily Essence é aumentar o portfólio destinado para as mulheres das camadas A e B. Hoje, seus tops de linha de O Boticário são: Malbec e Glamour, vendidos por R$ 81 e 84; respectivamente. Valor bem abaixo do cobrado pela nova fragrância: R$ 137. ?Isso mostra que a marca está disposta a evoluir?, destaca Silvio Passarelli, diretor da Faculdade de Artes Plásticas da Faap.

Na avaliação de Jaime Troiano, diretor da Troiano Consultoria de Marcas, a fabricante brasileira está no caminho correto. Segundo ele, a direção de O Boticário acertou em cheio ao eleger o segmento de fragrâncias para ingressar no mundo da cosmética sofisticada. ?A assinatura da empresa valoriza produtos deste nicho?, justifica. Mas será que isso é o bastante para carimbar o passaporte do Lily Essence no mercado de luxo? De acordo com o professor da Faap, o perfume pode, na verdade, consolidar a posição de O Boticário na fatia premium, uma espécie de ante-sala do altíssimo luxo. Grymbaum, vice-presidente da companhia avisa que isso é só o começo.