Os analistas esperam bons resultados dos principais bancos brasileiros listados na bolsa de valores nos balanços do terceiro trimestre de 2019 a serem divulgados a partir de 29 de outubro. De acordo com a prévia divulgada pelo analista-chefe do BTG Pactual, Carlos Sequeira, o aumento do lucro líquido deve avançar entre 12% no Itaú Unibanco (R$ 7,228 bilhões) até 41% no Banco do Brasil (R$ 4,463 bilhões) em comparação com o igual trimestre do ano passado. Nas estimativas dele, o ganho do Bradesco evolui 15% (R$ 6,275 bilhões), ao passo que o do Santander caminha para uma alta de 23% (R$ 3,728 bilhões). Nas instituições menores, o reportado pelo Banrisul cresce 12% (R$ 326 milhões) e do Banco ABC Brasil aumenta 11%, para R$ 128 milhões.

Já entre as instituições financeiras não bancárias, a expectativa do BTG Pactual é
de queda de 51% nos resultados da Cielo (R$ 397 milhões) e evolução de 61% no lucro da B3 (R$ 749 milhões). Nas demais, o IRB deve registrar alta de 32% nos ganhos, para R$ 402 milhões; a BB Seguridade para R$ 978 milhões (+12%), SulAmérica Seguros alcança R$ 247 milhões (+5%) e Porto Seguro irá para R$ 325 milhões (+3%), em relação ao obtido em idêntico período de 2018.

Nas previsões do Credit Suisse para os bancos privados, o resultado do Itaú deve avançar 16,2% para R$ 7,262 bilhões no trimestre a ser reportado, enquanto o lucro do Bradesco pode saltar 32,2%, para R$ 6,622 bilhões, e os ganhos do Santander Brasil vão subir 15,6% e atingir R$ 3,513 bilhões entre julho e setembro.

Para Luís Sales, analista da Guide Investimentos, o crescimento dos lucros dos bancos será puxado pelo aumento das receitas de crédito para pessoas físicas e pequenos negócios. “A carteira imobiliária terá um avanço importante”, diz Sales, que prevê pressão nas receitas de serviços por causa da concorrência de bancos digitais e de fintechs. “Itaú, Bradesco e Banco do Brasil são muito conservadores no crédito, preocupados com o controle da inadimplência. O Santander parece um pouco mais agressivo”, afirma. Numa visão por instituição, Sales comentou que o Bradesco ainda deve apresentar receitas menores com gestão de fundos de investimentos por conta do ambiente muito competitivo das plataformas financeiras, ao passo que o Itaú e o BTG Pactual estão mais estruturados nessa área. “Mas apesar da queda das receitas com fundos, o Bradesco terá um impacto positivo da área de seguros”, diz.

Sales resume que todo o setor financeiro, com exceção de Cielo, apresentará bons resultados, e ressalta que possui uma visão mais positiva para o balanço do Banco do Brasil, ao lembrar que a instituição passou por uma reestruturação que resultará em custos administrativos menores. Vale lembrar que o BB fechou agências sobrepostas em todo o País e realizou um programa de demissão voluntária (PDV) no seu quadro de funcionários em seu esforço para se aproximar do retorno obtido pelos bancos privados.

Em linha semelhante, o especialista em ações da Levante Ideias de Investimento, Eduardo Guimarães, diz que a forte competição no segmento de credenciadoras (adquirência) diminuirá as receitas da Cielo (com impacto para seus acionistas Bradesco e Banco do Brasil), e da Rede, essa última incluída diretamente nos reportes do Itaú. “Cielo e Rede nunca mais serão as mesmas, estão muito pressionadas em receitas com tarifas”, afirma. Em outras palavras, as credenciadoras mais antigas são impactadas pela abertura do mercado de cartões e por novas tecnologias, a chamada “guerra das maquininhas”, que fez proliferar uma centena de startups: fintechs e plataformas digitais de pagamentos.

Guimarães cita que o pagamento de R$ 8 bilhões de dividendos extraordinários do Bradesco — anunciado em 7 de outubro último — ajudará o banco a melhorar seu retorno sobre o patrimônio líquido (ROE). “O Bradesco vai dar um retorno maior e ficar próximo do Itaú”, diz. Guimarães ainda aponta que a Bradesco Seguros irá contribuir com cerca de 30% do resultado do Banco Bradesco. “A BB Seguridade também reduziu seu capital e deve pagar mais dividendos aos seus acionistas, entre eles, o BB”, afirma.

HORIZONTE MAIS COMPETITIVO Na visão do diretor do Sistema de Análise de Balanços Empresariais (SABE), Luiz Guilherme Dias, os balanços dos bancos virão melhores neste segundo semestre, mas para o horizonte de médio prazo o cenário é de muita competição. “Olhando para frente, não creio em melhores resultados. As fintechs e outras plataformas digitais vão morder pelas bordas, ofertando custos bem menores aos clientes que os grandes bancos”, diz.

Dias calcula que o retorno sobre o patrimônio líquido das instituições listadas deve diminuir. “Já esteve em 23%, está na faixa entre 15% e 20%, e ficará entre 15% e 17%, no máximo”, afirma. Ele sugere que os bancos de varejo terão que se reinventar e voltar a contribuir para o crescimento da economia por meio da expansão do crédito. “Até o ano passado, o crédito estava muito restrito, os controles estavam muito rigorosos; agora, se percebe alguma flexibilidade. A expectativa é de que haja uma melhora no crédito para pessoas físicas, pois o desemprego começa a ceder”, afirma.