O dia foi de volatilidade na Bolsa brasileira. Se pela manhã o Ibovespa tentou buscar os 107 mil pontos, na segunda etapa dos negócios a cautela pré decisão de política monetária aqui e nos EUA, na quarta-feira, fez o índice suar para defender o patamar dos 106 mil.

Mais do que a já esperada alta nos juros, o mercado aguarda as sinalizações dos bancos centrais – brasileiro e americano – para as próximas reuniões.

A cautela vem do receio de que um Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) mais agressivo se traduza em uma atividade global ainda mais difícil. Com isso, ativos de emergentes como o Brasil sofrem nas últimas semanas. Aqui a Bolsa já opera nos mesmos patamares de janeiro e anula boa parte do rali emplacado no primeiro trimestre. Nesta terça, terminou próxima da estabilidade, em queda de 0,10%, aos 106.528,09 pontos. No ano, acumula alta de 1,63%.

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Taxas de juros terminam de lado, à espera de decisões de Fed e BC

O desânimo na Bolsa ocorre a despeito de uma recuperação das ações ligadas a commodities, em um movimento técnico após a forte queda dos últimos dias, destacadamente o setor de metais e siderurgia. Os papéis da CSN estiveram entre as maiores altas do Ibovespa e subiram 4,44%, enquanto Gerdau metalurgia subiu 2,08%. Vale, por sua vez, teve leve queda, de 0,51%.

“O setor de siderurgia recupera um pouco da queda dos últimos dias, apesar de a China permanecer fechada, pelo feriado do dia do trabalho, e manter a política de zero covid”, apontou Rodrigo Moliterno, chefe de renda variável da Veedha Investimentos.

Na segunda-feira, os mercados reagiram fortemente a dados piores da indústria chinesa, que mostram que os lockdowns do governo de Xi Jinping têm afetado a atividade do gigante asiático. Nesta terça, o mau humor foi menor, por conta das commodities, mas não o suficiente para emplacar uma alta.

“O que está acontecendo hoje é expectativa, todo mundo avesso a risco. A grande expectativa é com a ‘super quarta’, com decisão de juros nossa e americana”, aponta Felipe Moura, analista de investimentos da Finacap.

Na quarta, às 15 horas, o Fed divulga sua decisão de política monetária e, logo em seguida, às 15h30, o presidente da instituição, Jerome Powell, dá sua tradicional entrevista coletiva. A expectativa do mercado é de alta de 0,50 ponto no juro americano. No Brasil, em decisão a ser divulgada às 18h30, a autoridade monetária brasileira também não deve entregar surpresas e os investidores esperam uma alta de 100 pontos na Selic.

O diabo, contudo, mora no comunicado. Com sinalizações mais agressivas por parte dos diretores e fatores, como a guerra na Ucrânia, que só têm alimentado as pressões inflacionárias, a expectativa é de que o Fed sinalize na direção de aumentos ainda maiores, de 0,75 pontos, para as próximas reuniões. Já no Brasil, a expectativa é se o Banco Central irá mesmo cumprir com o sinalizado e encerrar o aperto de juros na próxima reunião. A aposta do mercado é que, diante do atual risco de desancoragem de expectativas, o BC opte por deixar a porta aberta ao menos para mais um aumento.

“Mais importante do que propriamente a divulgação – quase consensual – da alta na taxa de juros lá e aqui no Brasil, será avaliar a postura, o comunicado ao mercado”, disse Lucas Carvalho, especialista de Renda Variável da Blue3.

Apesar da queda de mais de 2% no barril do petróleo, tanto em Londres quanto em Nova York, as ações da também Petrobras tiveram alta, ainda que leve, nesta terça. Mais cedo, o presidente da estatal, José Mauro Coelho, deu uma entrevista exclusiva ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) em que afirmou que o presidente Jair Bolsonaro não pediu a ele nada específico: “Só pediu para eu conduzir a companhia”. Os papéis preferenciais da petroleira subiram 0,90%, enquanto os ordinários avançaram 0,67%. A PetroRio, por sua vez, constou entre as maiores altas do Ibovespa, subindo 2,70%.

O dia foi de recuperação também para o setor aéreo, com Azul, Gol e Embraer e para o setor financeiro, que subiu em bloco, à exceção de Itausa e B3.