Piscou de novo. Ao enxergar no horizonte da economia o fantasma da inflação, o Banco Central mais uma vez tremeu e, após dois longos dias de reuniões, anunciou na noite da quarta-feira 18, novo aumento nas taxas de juros da economia. O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a taxa Selic em meio ponto percentual e deixá-la em 16,25%. Com isso, manteve a tática adotada no encontro realizado um mês antes: calibrar os juros com pequenos ajustes para fazer com que a inflação feche o ano dentro da meta de 4% sinalizada ao Fundo Monetário Internacional.

Durante a reunião, dois assuntos influenciaram o aumento dos juros: as turbulências na Argentina e Estados Unidos e pressões inflacionárias, principalmente a contaminação dos preços pelo câmbio. O clima era de cautela. Nos três primeiros meses deste ano, a inflação medida pelo IPCA ? usado na meta de inflação do governo ? está acumulada em 1,41%.

Nem mesmo duas boas notícias vindas de fora na tarde do dia 18 impediram a elevação dos juros no Brasil. O BC captou US$ 411 milhões na Europa e o banco central americano divulgou a redução de meio ponto percentual no juro básico para 4%. A decisão de Alan Greenspan, presidente do Federal Reserve, foi justificada como um movimento para aquecer a economia real nestes tempos em que a economia virtual, refletida nos decadentes índices da Nasdaq, se mostram capazes de derreter qualquer sinal de crescimento nos EUA. Greenspan mirou o peixe e a frigideira, simultaneamente. Deu-se preferência, aqui, à velha fórmula de aumentar a remuneração do capital na esperança de chamar de volta o capital estrangeiro ao Brasil.

Durante a reunião do Copom, dezenas de indicadores macroeconômicos foram analisados. Entre eles, o comportamento dos preços administrados (que dependem das ações do governo). Em um levantamento interno feito este mês, o BC projetou um aumento médio de 6,1% em 2001. Segundo o banco, o peso desses itens no Índice de Preços ao Consumidor ? usado para metas do governo ? saiu de 22,76% em dezembro de 2000 para 22,34% em fevereiro deste ano. A decisão de aumentar os juros, que eleva em R$ 1,3 bilhão a dívida pública e reduz o fôlego do setor produtivo, voltou a ser criticada. ?O juro brasileiro, que já era alto, é maior que o da Argentina, um país que está com a corda no pescoço?, disse o economista Guido Mantega à repórter Deise Leobet. Mesmo sob reclamações, a iniciativa não pegou o mercado de surpresa ?O Copom agiu com cuidado e bem?, classificou o ex-presidente do BC, Carlos Langoni.