Em dezembro de 2009, uma comitiva com sete dos principais executivos da fabricante de computadores chinesa Lenovo, incluindo o CEO, Yang Yuanqing, e o COO, Rory Read, aterrissou no Brasil. Era um indício de que a companhia preparava uma nova ofensiva no País. Um ano antes, ela havia tentado comprar a brasileira Positivo, que lidera o mercado de computação pessoal local há mais de cinco anos.
 

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“Construímos uma base sólida para crescer de forma rápida no Brasil” 
Tomaz Oliveira, vice-presidente de canais globais da Lenovo 
 

A não conclusão do negócio foi mais um revés para a empresa, desde que os chineses adquiriram a divisão de PCs da IBM, em 2005. A operação, saudada como uma nova era no setor, não conseguiu alavancar as vendas da Lenovo. Na época, o negócio a colocou na terceira posição no ranking global, atrás de Dell e HP. Hoje, é a quarta. No Brasil, não foi diferente.

No ano passado, amargou uma incômoda nona posição. Mas a companhia já começou a escalar os degraus para levá-la novamente ao topo. No primeiro trimestre de 2010, subiu quatro lugares e alcançou a quinta colocação. Cresceu 107% na comparação com o mesmo período do ano passado, mais de duas vezes e meia a média do mercado.

“Construímos uma base sólida para a empresa poder crescer de forma rápida no Brasil”, afirou em entrevista exclusiva à DINHEIRO Tomaz Oliveira. Ele comandou a reação da Lenovo no País e recentemente assumiu a vice-presidência de canais globais da empresa.  “Aspiramos à liderança do mercado local.”

Apesar do crescimento acelerado, a Lenovo tem só 3,7% de participação de mercado. No primeiro trimestre de 2010, foram vendidos 2,9 milhões de máquinas, de acordo com a empresa de pesquisas IDC. A líder Positivo tem 14,4%. Chegar ao topo não será tarefa simples. A disputa local é cada vez mais forte. O novo presidente da HP, Oscar Clarke, já disse que o alvo da empresa é conquistar a liderança no País, a mesma posição que tem globalmente.

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A Dell, que sempre apostou nas vendas diretas, reformulou sua estratégia e passou a atuar através de redes varejistas. A taiwanesa Acer, segunda no mundo, chegou ao Brasil no ano passado e aposta todas as fichas na venda de notebooks. A Lenovo sabe que há um grande percurso a ser trilhado e que precisará usar toda a paciência oriental neste trajeto. Por isso, desenhou um plano pé no chão para levá-la em quatro anos ao grupo das três maiores do mercado brasileiro com pelo menos 10% de participação. A ideia é reforçar o que deu certo até agora e levou ao crescimento de 107% em apenas um ano. Aquisições não estão descartadas, mas não são prioridade. O principal pilar para chegar lá é atacar o consumidor final.

As vendas da Lenovo nesta área saíram de praticamente zero para 23%. Na média do mercado, elas representam 60% das vendas de computadores no Brasil. “Ainda é pouco, mas vamos continuar crescendo acima das concorrentes”, garante Oliveira. Para isso, a empresa vai aumentar ainda mais o número de parceiros no varejo. Atualmente, são apenas 14. Outro alvo é ampliar o relacionameto com pequenas e médias empresas.

Dará certo? “Definitivamente, a Lenovo não quer ser apenas mais uma”, afirma Ivair Rodrigues, diretor da consultoria IT Data. “Ela tem objetivos agressivos para o País.” Para ele, a chegada do chinês Xia Lia, que assumiu a operação brasileira no lugar de Oliveira, mostra que o País é uma prioridade para a companhia. Nada mais natural. O Brasil deve terminar o ano como o terceiro maior mercado de PCs do mundo, de acordo com projeções da fabricante de chips Intel. Mundialmente, os resultados também começaram a aparecer.

A companhia teve lucro líquido de US$ 129 milhões no exercício fiscal de 2009. Com isso, reverteu um prejuízo de US$ 226 milhões. “A Lenovo demorou a perceber que o mercado havia mudado para os notebooks e para as vendas pelo varejo”, disse à DINHEIRO Willy Shih, professor da escola de negócios de Harvard. “Atualmente, ela corre para tirar o atraso”, concluiu. Correr, eis a  palavra de ordem na Lenovo hoje para terminar mais rápido sua escalada.