Não adianta ter um carro de Fórmula 1 se você não souber pilotar. O alerta do coreano Nam Jin Kim, diretor médico de Cirurgia e Cirurgia Robótica do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, ilustra a importância e também os desafios envolvidos na utilização de robôs — ou plataformas robóticas — em operações de diversas especialidades na medicina, seja no Brasil ou no exterior. Atualmente no País são realizados mais de 20 mil procedimentos por ano. A eficácia das máquinas, com benefícios inclusive no pós-operatório, é destacada pelo especialista em intervenções em áreas como urologia, cardiologia, tórax, ginecologia, oncologia e aparelho digestivo. A operacionalização do sistema e o alto custo dos equipamentos, no entanto, seguem como os maiores obstáculos para sua popularização.

As vantagens da utilização dos robôs em cirurgias são muitas: padronização do procedimento e da atuação da equipe; maior precisão e ampliação da possibilidade de movimentos com a mão; redução do tremor, da dor e do uso de medicamentos. Já entre as desvantagens está o custo de uma intervenção que, dependendo da especialidade, pode superar em até 60% o preço de uma similar realizada pelo método tradicional. Há casos, segundo o cirurgião-geral Kim, em que o uso do equipamento não é aconselhável, como para a retirada de vesícula, na qual segundo ele não se constatou benefício.

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“Um mau cirurgião continua sendo um mau cirurgião robótico. Já um bom cirurgião, se devidamente treinado, pode se tornar um bom cirurgião robótico” Nam Jin Kim Diretor de Cirurgia Robótica do Einstein.

O uso das plataformas robóticas em cirurgias, a partir de 2008 no Brasil, evidenciou os prós e contras do sistema, mas também chamou a atenção para a necessidade de especialização dos profissionais que iriam operá-lo. “Na época muita gente achou que o robô iria resolver qualquer problema”, disse Kim, que exerce também o cargo de coordenador-geral das pós-graduações de Cirurgia Robótica do Einstein. “Mas um mau cirurgião continua sendo mau cirurgião robótico. Já um bom cirurgião, se devidamente treinado, pode se tornar um bom cirurgião robótico.” A explicação, de acordo com ele, é simples: “O robô corrige falhas, diminui margem de erro, mas não faz isso sozinho.” Na visão do médico, o treinamento é a base de tudo. “Quando há público bem treinado é possível propagar a tecnologia de maneira adequada, mantendo os custos controlados e um resultado bom”, afirmou.

E os custos são sempre motivo de preocupação. Cada plataforma robótica custa US$ 2,5 milhões, em média. Atualmente, três empresas atuam no mercado brasileiro: Intuitive (robô Da Vinci), Medtronik (robô Hugo) e CMR. No Hospital Israelita Albert Einstein são dez unidades (10% do total do Brasil), seis utilizadas em cirurgias e outras quatro dedicadas ao treinamento de profissionais brasileiros e do exterior. “Já treinamos mais de 1 mil cirurgiões de 14 países.” A rede Einstein faz cerca de 2 mil cirurgias por ano.

“Os robôs apresentam novas tecnologias a cada três, quatro ou cinco anos. Isso leva a um custo extremamente alto” Carlo Passerotti Coordenador do Centro de Urologia do Hospital Oswaldo Cruz.

INVESTIMENTO No Hospital Sírio-Libanês, também sediado em São Paulo, estão à disposição da equipe médica seis plataformas robóticas: duas são utilizadas em procedimentos clínicos (110 operações em média por mês), outra em treinamento de profissionais e as demais em intervenções endovasculares, minimamente invasivas. Recentemente, segundo o médico Sergio Arap, superintendente do Centro Cirúrgico e do Centro de Endoscopia Digestiva do hospital, houve investimento de R$ 36 milhões na compra de dois robôs. As máquinas da instituição são usadas com mais frequência em casos de prostatectomia (remoção total ou parcial da próstata), além de outras cirurgias urológicas e do aparelho digestivo.

Sergio Arap não visualiza redução no curto prazo no custo dos robôs apesar do crescimento da procura no Brasil por parte de hospitais e laboratórios. “Ele não teve o preço reduzido desde que chegou por aqui. Pelo contrário. Só aumentou”, disse. “E depois de cinco anos de uso, a gente não consegue vender a plataforma no mercado nem por R$ 2 milhões, porque já virou equipamento ultrapassado.”

A opinião de Arap é compartilhada pelo médico Carlo Passerotti, coordenador do Centro Especializado em Urologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Segundo ele, diferentemente de um aparelho de celular, com custo mais baixo e modernizado anualmente, “os robôs apresentam novas tecnologias a cada três, quatro ou até cinco anos”. Mas ainda com preço extremamente alto para uma troca mais frequente. O Oswaldo Cruz dispõe de um robô, responsável por 540 procedimentos em 2022. “A previsão é ter outra unidade em futuro próximo”, disse Passerotti. Apesar de destacar os benefícios propiciados pela máquina, ele afirmou que “o médico sempre terá o controle das ações nos procedimentos”. Ou ao menos até que os robôs mostrem o contrário.

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