Pode-se dizer, sem medo de errar, que uma das maiores invenções do mundo capitalista é a bolsa de valores. Dar a possibilidade a cidadãos comuns – com apetite de lucro e dispostos ao risco – de se transformar em sócios de empresas tornou-se, na maioria dos casos, um jogo de ganha-ganha: para quem compra ações, pode ser um investimento atrativo no longo prazo e, para as companhias, a bolsa representa uma interessante fonte de recursos de longo prazo, para acelerar planos de expansão. No Brasil, essa lógica tem redesenhado a estrutura das empresas e, por consequência, projetado o País no cenário internacional. “Todos os resultados positivos da economia brasileira chamam a atenção de outros países”, diz Maria Helena dos Santos, que presidiu a Comissão de Valores Imobiliários (CVM) até o sábado 14. 

 

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Pregão memorável: em 2010, o então presidente Lula participou do aumento da oferta

de ações da Petrobras, a maior da bolsa: R$ 120 bilhões em um único dia.

 

“O Brasil tem crescido em importância no cenário internacional por duas razões: pelo desempenho de sua economia e, principalmente, pela resistência às crises.” Graças às aberturas de capital das empresas, que fizeram do mercado de ações uma imprescindível fonte de recursos financeiros para financiamento de projetos, a economia global pôde viver nas últimas décadas os mais longos e sólidos ciclos de prosperidade da história do mundo moderno. No caso das empresas brasileiras, embora isso não seja uma novidade, o mercado acionário viveu seu apogeu em volume de investimento somente nos últimos 15 anos, início do ciclo que ficou conhecido como a era do IPOs (sigla em inglês para oferta pública inicial). Em 2007, o melhor ano da história da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), 64 companhias brasileiras abriram capital, entre elas Tecnisa, JBS, Marfrig, MRV e Sul­América. 

 

No total, essas empresas arrecadaram R$ 45 bilhões em investidores nacionais e estrangeiros naquele ano. Os exemplos e os números, no entanto, falam por si. Segundo um recente relatório da consultoria Ernst & Young, os IPOs realizados na América Central e do Sul movimentaram US$ 8,6 bilhões no ano passado, 5,5% do total global, em 27 operações. O Brasil liderou na região tanto no número de IPOs quanto em volume levantado. Foram 11 ofertas iniciais, que captaram US$ 4,4 bilhões, um volume 31,4% menor em comparação ao total de 2010, mas um resultado relativamente bom diante de um cenário de crise e incertezas na economia mundial. Mesmo assim, esse período de ouro da bolsa brasileira transformou empresas médias em multinacionais, e empresários em bilionários. A trajetória do empresário Eike Batista endossa essa transformação. 

 

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Bolsa e água fresca: reportagem, em 2008,

mostrava vantagens e riscos de investir em ações.

 

A estreia de sua petrolífera OGX levantou nada menos do que R$ 6,7 bilhões em um único dia, em 2008, ainda sem extrair uma gota de petróleo sequer. Atualmente, graças à bolsa, ele está entre os homens mais ricos do planeta, a despeito das recentes atribulações de suas empresas nos pregões. Há exemplos menos expressivos, mas não menos importantes para seus acionistas, como o da empresa de software Totvs, que captou cerca de R$ 700 milhões em sua estreia na bolsa e, logo no primeiro dia, gerou 220% de retorno aos investidores. Já o Santander Brasil conseguiu, em 2009, captar R$ 13,2 bilhões em sua estreia na bolsa, o maior volume de uma empresa privada na história da Bovespa. 

 

Mas, por enquanto, o aumento de capital da Petrobras, em outubro de 2010, é imbatível nas cifras: foram levantados astronômicos R$ 120 bilhões no primeiro dia de pregão, dinheiro fundamental para garantir à estatal os recursos necessários para a exploração do pré-sal. “A geografia da economia mundial foi desenhada, principalmente, pelo mercado de ações, assim como as guerras definiram as fronteiras dos países ao longo dos últimos séculos”, definiu o historiador e economista americano, Robert Kagan. O fato é que, mesmo diante do inevitável sobe e desce da economia global, o mercado de ações no País entrou em um caminho sem volta. Para a superintendente-adjunta do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) Adriane de Almeida, a maturidade das empresas encoraja a abertura de capital. “Nosso país dá, hoje, segurança aos investidores do mundo inteiro”, diz.

 

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