Durante séculos, a milenar Salamanca foi o centro das principais decisões políticas e econômicas do império espanhol. Era tão importante que, em 1218, lá foi fundada a Universidade de Salamanca. Ainda em atividade, é a mais antiga da Península Ibérica e quarta mais antiga da Europa. Estratégica, seus estudiosos auxiliaram Cristovão Colombo a traçar os planos de conquista da América. Na semana passada, o local voltou a reunir conquistadores da política e da economia do Velho Continente. O IV Encontro de Reitores, promovido pelo Universia, braço de educação do Grupo Santander, teve a participação do rei da Espanha, Filipe VI, do primeiro-ministro Mariano Rajoy, de Marcelo Rebelo de Sousa, presidente de Portugal e de Ana Patricia Botín, CEO do grupo Santander. Entre eles, um brasileiro: o carioca Sergio Rial, presidente do Santander Brasil. “Somos prova de que um banco estrangeiro pode ter êxito no Brasil”, disse ele à DINHEIRO.

Ana Patricia Botín: “O Brasil tem algo muito especial, que é a capacidade de se recuperar, de melhorar, de acreditar em si mesmo.” (Crédito:Juan Manuel Serrano Arce/Getty Images)

O lugar reservado a Rial ilustra a importância do Brasil para o grupo. O executivo comanda hoje a maior operação do Santander no mundo. Considerando-se o resultado gerencial, o Santander Brasil lucrou R$ 2,87 bilhões no primeiro trimestre deste ano, alta de 42,9% ante os R$ 2,01 bilhões do mesmo período de 2017. A fatia brasileira do lucro global foi de 27%, um pouco menos que a soma do lucro das operações do banco na Espanha (18%) e na Inglaterra (13%), segundo e terceiro colocados, respectivamente. O ritmo de crescimento dos lucros superou os 9,8% do Bradesco e os 3,8% do Itaú Unibanco. “O segredo foi trabalhar para burro e definir claramente para a organização o espaço que o Santander podia ocupar no Brasil”, diz Rial. Parte do desempenho se explica pela decisão de reduzir os juros no crédito imobiliário para 8,99% ao ano e os do financiamento de veículos para 0,75% ao mês, de modo a reforçar sua presença nesses segmentos.

Outro pilar da estratégia é a aposta nas micro e pequenas empresas. Há quatro anos, o banco atendia 200 mil clientes nesse segmento e planeja chegar a 1 milhão no fim de 2018. “Existem bolsões de crescimento e de empreendedorismo que estão acontecendo no Brasil”, diz Rial. “No ano passado houve o maior número de lançamento de franquias desde 2014.” O otimismo é compartilhado por Ana Patrícia. “Venho ao Brasil desde 1992. Desta vez, estive no Nordeste e em Ribeirão Preto. Sempre digo que o Brasil não é um país, mas um continente. E tem algo muito especial, que é a capacidade de se recuperar, de melhorar, de acreditar em si mesmo”, disse.

O Santander Brasil também se beneficiou de um dos mais baixos índices de inadimplência do setor bancário, de apenas 2,9%. No Bradesco, esse índice é de 4,4% e, no Itaú, de 3,1%. Sofrendo menos com calote, o banco conseguiu expandir sua carteira de crédito para R$ 280,4 bilhões, um avanço de 9%. O maior aumento foi nos empréstimos às pessoas físicas, que cresceram 21%. A base de clientes ativos aumentou 9,1% e alcançou 22,2 milhões. Para os analistas, a estratégia funcionou. “Os bancos têm de ampliar suas carteiras de crédito para compensar a queda dos ganhos devido à redução das taxas”, diz Erivelto Rodrigues, sócio da consultora Austin Ratings.

Essas razões não foram as únicas para o bom resultado. Foram corrigidos problemas crônicos no banco por internet e nos aplicativos de celular, que provocavam reclamações sistemáticas dos clientes. “Reconheço que o site do banco era ruim, principalmente para as empresas”, diz Rial. “Mas corrigimos e atualizamos as ferramentas e deixamos isso para trás”. Isso elevou em 33% o número de clientes digitais. As vendas por meios eletrônicos cresceram 84% e a contratação de empréstimos pessoais quase triplicou. No trimestre, 73% das transações foram realizadas por esses canais. Agora, a aposta de Rial é que a baixa dos juros turbine a demanda por crédito e continue estimulando o crescimento das operações no Brasil. “Vamos ver os efeitos da redução dos juros na ponta, porque a competição vai se acirrar.”