Atente para os seguintes números:

? Entre 1995 e 2002, os ativos dos bancos brasileiros deram um salto de 126% e atingiram um volume de R$ 1,17 trilhão
? A rentabilidade sobre o patrimônio deu outro salto, quase duplo. De uma média de 8,7% foi parar em 16,5%
? Apesar dessa expansão o número de bancos caiu de 225 para 168, redução de 25%
? Não foi necessário sequer aumentar o número de agências. No total, há 16,8 mil pontos de atendimento espalhados pelo País, contra 17,4 mil há oito anos.

Resumo da ópera: foi uma época de ouro para os bancos no Brasil ? pelo menos para os que sobreviveram. Nunca o sistema financeiro sofreu tantas mudanças como nesse período, mas, em compensação, jamais ganhou tanto dinheiro. ?Se essa era tivesse de ser sintetizada em duas palavras, eu diria concentração e lucratividade?, diz Erivelto Rodrigues, diretor da Austin Asis, consultoria especializada em análise de bancos. Caso fossem necessárias duas outras expressões, Rodrigues poderia acrescentar internacionalização e privatização. Bandeiras como as espanholas Santander e BBVA e a holandesa ABN Amro desembarcaram no mercado brasileiro ou reforçaram a presença por aqui. A participação dos estrangeiros no total de ativos saltou de 8,9% para 31%. Ao mesmo tempo, os bancos públicos diminuíram, e muito, sua fatia no bolo, de 52,7% para 33,6%.

 

Essas mudanças foram resultado do mais profundo processo de saneamento do sistema financeiro já registrado na história do País. O Proer, programa de recuperação dos bancos lançado em 1995 pelo governo, consumiu cerca de R$ 20 bilhões. Para os críticos de Fernando Henrique e Pedro Malan, foi dinheiro público gasto para salvar a pele de banqueiros incompetentes. Para os defensores, foi um investimento necessário para evitar uma crise de proporções incalculáveis que atingiria toda a economia. ?O Proer foi uma solução criativa e menos onerosa?, diz Gabriel Ferreira, presidente da Febraban, associação que reúne os bancos. ?Há pessoas que insistem que foi um programa de salvamento dos bancos com dinheiro público. Mas não foi usado dinheiro público no Proer. Os recursos vieram da própria reserva bancária, não do Tesouro ou de qualquer órgão governamental, nem mesmo do Banco Central.? Na esteira desse processo, nomes tradicionais do setor financeiro, como Nacional, Bamerindus e Econômico, sumiram do mapa, envolvidos em escândalos. Outros sucumbiram à dura competição que tomou conta do mercado. Foi o caso do Real, vendido ao ABN.

ENXUGAMENTO
O número de instituições caiu de 225 para 168 entre 1995 e 2002

A grande dificuldade enfrentada pelos bancos veio da estabilidade monetária. Até o lançamento do Plano Real, as instituições financeiras viviam principalmente do floating, os ganhos financeiros proporcionados por taxas de inflação elevadíssimas. O surgimento de uma moeda estável secou essa fonte de receita. ?A partir daí os bancos tiveram que reduzir seus custos e ganhar escala?, diz Rodrigues, da Austin Asis. Isso provocou uma onda de fusões e aquisições que ainda não chegou ao seu final, segundo os especialistas. Nenhum banco foi tão agressivo nessa investida quanto os dois grandalhões nacionais, o Bradesco e o Itaú. Em certos momentos, os dois anunciavam compras atrás de compras na briga pela liderança do setor. ?Aproveitamos as oportunidades no setor privado e nas privatizações para sustentar nosso crescimento?, afirma Roberto Setubal, presidente do Itaú. Os antigos bancos públicos estaduais despertaram a atenção de Setubal em função do número de correntistas e da capilaridade da rede de agências. No caso dos privados, a atração vinha sobretudo da possibilidade de aumentar a carteira de crédito. Em 1995, o Itaú tinha três milhões de clientes pessoas físicas. Hoje esse número saltou para nove milhões. Um terço dos correntistas veio dos bancos adquiridos no período. Os outros três milhões são fruto do que Setúbal chama de ?bancarização da população brasileira?. ?Milhões de pessoas passaram a ter acesso às instituições depois da estabilização da moeda?, diz ele. ?Estávamos atentos a isso e conseguimos atrair uma parcela importante desse pessoal.?