A primeira-ministra da Inglaterra, Teresa May, está penhorando seu próprio destino na malograda experiência do Brexit. Desde que foi surpreendentemente aprovada em um plebiscito apertado, que contou com muitos votos conservadores e o descaso da maioria da população sobre o assunto, a ideia da retirada do Reino Unido da União Europeia só tem gerado dores de cabeça e altos prejuízos a seus defensores. A começar pela própria May. Nos últimos tempos, ela foi tripudiada por chanceleres líderes da UE, desprezada em Bruxelas e desprestigiada por seus conterrâneos.

Conseguiu fazer passar o projeto de retirada do bloco no Conselho da UE, mas agora tem pela frente um parlamento inglês arredio, descrente nas benesses da proposta e com uma certa disposição à voltar atrás. A premiê britânica corre contra o tempo e promove favores por votos. Se sair derrotada selará uma renúncia inevitável do cargo e colocará o seu partido em desvantagem na “House of Lords”. Os termos do Brexit são claramente espoliadores e prejudiciais à população. Um estudo elaborado pelo National Institute of Economic Research aponta que o Brexit custará perto de 100 bilhões de libras — R$ 505 bilhões — em 10 anos para a economia nacional.

Sugere o mesmo estudo que até 2030 a Grã-Bretanha terá perdido 3,9% em crescimento do PIB. Desde o plebiscito em 2016, a economia da Inglaterra vem desacelerando, com fuga de empresas e queda do prestígio na banca internacional. Até meados de dezembro o assunto entra na reta final na Câmara dos Deputados. Do referendo ao acordo na semana passada foi aberta uma brecha para a permanência britânica na UE. O tempo é o principal fator nesse sentido. O tratado ainda deve retornar ao Conselho Europeu depois dos arrastados debates no Parlamento e tudo precisa estar pronto para a saída do País do bloco até 29 de março do ano que vem. É um prazo exíguo. E as cláusulas, negociadas por May, são decerto indigestas.

Dentre elas ficou estabelecido que o Reino Unido deverá arcar com US$ 50 bilhões em compromissos financeiros da operação de desembarque. Praticamente assumirá a conta sozinho. Ao mesmo tempo, seguirá atado a algumas regulações do bloco em diversas áreas e por anos à fio, tendo entre outras restrições uma capacidade limitada para negociar acordos comerciais com outros países. No placar de prejuízos, a lista só cresce. E na mesma proporção a autoridade e o respeito de May vêm caindo de maneira implacável. Para os britânicos de uma maneira geral, se houvesse alguma chance de arrependimento, esquecendo o que aconteceu e retornando ao modelo original, eles não iriam hesitar nesse sentido. Pena que está é uma opção remota.

(Nota publicada na Edição 1098 da Revista Dinheiro)