Na época, eu tinha pouco mais de 25 anos e havia passado por experiências profissionais que me fizeram perceber que muitos dos meus colegas de trabalho se sentiam presos, desmotivados e não se viam representados ou ouvidos pela empresa. Por isso, era fundamental que nos debruçássemos sobre a cultura que queríamos construir.

Quando falo em cultura, falo mais do que um escritório com pufes, videogame e cerveja no fim do expediente. Essas coisas podem ser atrativas para muitas pessoas, mas são uma parte muito pequena da expressão de algo maior, que chamamos de cultura corporativa. Ela abrange todas as pessoas que fazem parte de uma empresa, dos C-levels aox estagiáriox, do fundador ao responsável pela faxina. Com isso em mente, quando decidimos realizar um rebranding da nossa marca, envolvemos diferentes colaboradores com suas perspectivas peculiares, em um processo cheio de trocas, conversas e muita escuta.

Quando um empreendedor se permite ouvir as pessoas que trabalham em seu time se dá conta de que cada um desses indivíduos é tão ativo no sucesso desse projeto quanto o dono. O que descobrimos com essa experiência foi justamente um alinhamento entre visão, missão e valores que constituíam a nossa empresa. A nossa cultura, por mais que não estivesse oficializada até então, existia informalmente no dia a dia de cada uma daquelas pessoas.

Passado um ano desse trabalho, nossa companhia mais do que dobrou de tamanho e número de funcionários. Celebramos juntos os cinco anos de empresa e fomos surpreendidos com uma nova realidade, que nos tirou o contato físico e nos deu o desafio de manter uma cultura, ainda tão jovem, agora a distância. A primeira necessidade que identificamos: não criar alardes. A crise existe. Mas, se a empresa está financeiramente saudável, é preciso que os colaboradores saibam e confiem nas lideranças para atravessar esse momento. A transparência é fundamental nesse processo e evita que os rumores se espalhem.

Outro obstáculo atual é o distanciamento em si. A consultoria Grant Thornton, em parceria com a Fundação Dom Cabral, constatou que a produtividade aumentou com o trabalho remoto. No entanto, 76% das pessoas que estão trabalhando em casa disseram sentir falta da interação com colegas de trabalho. Como manter os rituais da empresa em dia e principalmente o embarque de novos colaboradores? É importante que as equipes tenham momentos de descontração e interação que não seja voltada ao trabalho.

A empresa dos sonhos não é uma empresa. Ao menos não é só uma empresa. Como empreendedores, precisamos ter claro o entendimento de que o colaborador dedica muito tempo de seu dia para o trabalho. Não estou falando apenas sobre cuidar de um time de profissionais engajados, mas também de dar a eles recursos para a realização pessoal. Quando decidi empreender, queria construir um negócio que fosse bem sucedido, é claro, mas principalmente que fosse um lugar em que as pessoas tivessem orgulho em trabalhar. Agora, mesmo distante, esse sonho segue mais forte do que nunca.

Carlos Tristan é cofundador da Squid e especialista em marketing de influência.