É interessante observar o processo de transformação dos espaços de trabalho nos últimos tempos. Um processo dinâmico, acelerado, que, com a pandemia, intensificou-se ainda mais.

É cedo para afirmarmos se essa dinâmica permanecerá no contexto pós-Covid ou se certas tendências anteriores serão retomadas, ainda que não da mesma maneira. De qualquer forma, não me parece ociosa, mesmo nesse cenário de incertezas, uma reflexão sobre elementos característicos desse processo à luz das dinâmicas sociais e do desafio da humanização.

Já não é de ontem que o ambiente das empresas deixou de ser um mero espaço laboral. Até algumas décadas atrás, prevaleceu o modelo “escritório”, onde os funcionários encontravam um ambiente estruturado para o desempenho de tarefas profissionais, a serem cumpridas nos intervalos de tempo pré-determinados das horas de trabalho. Aos poucos, a concepção da dinâmica do trabalho profissional foi se modificando, e isso exigiu uma adaptação dos espaços. Assim, os tradicionais escritórios, sisudos e “funcionais”, transformaram-se em ambientes mais “leves” e “descolados”, que lembram mais uma escola ou um clube do que uma repartição ou oficina.

Tal transformação reflete o radical processo de evolução na dinâmica laboral em nossos tempos. Dentre múltiplos aspectos, pode-se destacar, por exemplo, a diluição das fronteiras entre vida pessoal e profissional, educação e trabalho, lazer e labuta. O tempo no ambiente de trabalho alargou-se, e muitas das atividades que antes eram realizadas em outros espaços passaram a ser incorporadas e oferecidas no “escritório” — e, em tempos de home office forçado, o inverso também é verdadeiro. Assim, as casas vão sendo adaptadas em escritórios…

Para além desse fenômeno, entretanto, líderes e gestores comprometidos com a humanização necessitam estar atentos ao impacto que essas transformações causam na vida de seus colaboradores. Num contexto de crescente absorção e comprometimento existencial com a empresa, esta, por meio de seus gestores, deve reconhecer o proporcional incremento de responsabilidade que tal dinâmica representa.

Diante disso, muito além de proporcionar espaços e tempos de relaxamento, de lazer, de “descompressão”, a liderança comprometida com a humanização deve reconhecer na nova realidade uma oportunidade única e potente para promover o crescimento e o desenvolvimento humano de seus colaboradores — crescimento e desenvolvimento que não devem se restringir à dimensão técnica e profissional, mas envolver os múltiplos âmbitos da experiência humana: afetiva, estética, cultural. O espaço da empresa humanizada deve ser o espaço da promoção do humano em sua integralidade.