As incertezas em torno da aprovação da reforma da Previdência e a perda de fôlego no cenário internacional pesam sobre a economia brasileira. Os dados preliminares mostram que atividade não reagiu como esperado e deve registrar mais um ano de frustração. Na avaliação do economista-chefe do Itaú-Unibanco, Mário Mesquita, o País está em compasso de espera a respeito da trajetória fiscal. Em outras palavras, em torno da aprovação da reforma da Previdência. “A atividade está recuperando aquém do que imaginávamos há quatro, cinco meses atrás”, afirmou Mesquita no evento Macro Vision 2019.

O banco revisou a projeção de crescimento para este ano de 2% para 1,3%, semelhante ao nível registrado em 2018 (1,1%). A frustração ficará claro já nos dados do primeiro trimestre. A expectativa do Itaú Unibanco é de uma leve queda do PIB no período de janeiro a março. Por trás das novas perspectivas, estão o efeito estatístico relacionado ao baixo crescimento no ano passado e a desaceleração da economia mundial. Além disso, há pioras no setor agrícola e um impacto do acionamento das térmicas.

Uma reversão do ritmo gradual só acontecerá com a ampliação da confiança e do investimento. “O principal fator que está faltando na retomada brasileira é a volta do investimento”, afirmou Mesquita. Empresários e investidores aguardam com atenção uma sinalização mais firme de que a reforma da Previdência será aprovada no Congresso, sem uma grande diluição, o suficiente para estancar a trajetória de crescimento da dívida pública e afastar riscos de aumentos de carga tributária.

O Itaú Unibanco espera uma diluição de até metade da economia prevista com a reforma da Previdência no Congresso. O projeto do governo estima uma redução total de pouco mais de R$ 1 trilhão com medidas como aumento da idade mínima e elevação da alíquota de contribuição. O texto está na fase inicial de tramitação, em análise na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Mesmo se aprovada nesta semana, Mesquita acredita que a votação no plenário da Câmara deve ficar para o segundo semestre.

Os efeitos positivos da reforma no investimento devem ser sentidos apenas em 2020. A previsão é de um avanço de 2,5% do PIB. A aprovação do projeto também é considerada condição básica para que o Banco Central possa ser mais agressivo na decisão dos juros. A taxa básica está na mínima de 6,5% há mais de um ano e não parece ser suficiente para aquecer a atividade até agora.

Diante da prostração da atividade, o Itaú Unibanco passou a prever novos cortes para a taxa Selic. A expectativa agora é que os juros básicos encerrem o ano em 5,75%. “ A economia sofreu alguns choques em 2018 que podem ter retardado a flexibilização sobre a atividade”, afirma Mesquita ao se referir à greve dos caminhoneiros e à crise da Argentina. “Quando o efeito deles passar é que o Banco Central vai poder observar melhor se o grau de estímulo que esta injetando na economia é adequado ou não.”