Nem o mais certeiro dos videntes conseguiria prever a complexidade do ano de 2018 para o Brasil e para o mundo. Um dos principais candidatos à Presidência já estava inelegível pela Lei da Ficha Limpa e acabou sendo preso. Outro concorrente sofreu uma tentativa de assassinato, durante a campanha, em Juiz de Fora (MG). Salvo pelo Sistema Único de Saúde (SUS), Bolsonaro ficou internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo, o que o impossibilitou de participar dos debates e acabou ajudando sua campanha, já que o desempenho nos confrontos era pífio. Foi ao segundo turno contra o petista Fernando Haddad e recebeu 58 milhões de votos, elegendo-se o 38º presidente da República da história do País.

Como se não bastasse, houve diversas denúncias contra o presidente Michel Temer (MDB) no primeiro semestre. Ele conseguiu passar ileso no Congresso, mas alguns dos seus ministros e assessores foram presos ou exonerados. Um dos desafios do governo foi contornar a greve dos caminhoneiros. O mundo ainda viu nascer uma preocupante guerra comercial entre Estados Unidos e China, que, muito provavelmente, ainda causará solavancos à economia global em 2019. Confira alguns dos principais fatos do ano que está prestes a terminar.

“Facada santa”: pressionado com as incertezas políticas, o Ibovespa viveu, em 6 de setembro, um divisor de águas. À medida que o Brasil era pego de surpresa com a notícia da facada sofrida pelo então candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL), a Bolsa reagia imediatamente. Em menos de meia hora, o Ibovespa disparou mais de 1.000 pontos, dando sinais claros de que o mercado via de forma positiva uma eventual vitória do candidato do PSL. E a aposta se concretizou. Se a Bolsa encostava nos 76 mil pontos à época, hoje, com Bolsonaro prestes a assumir o cargo de presidente, o índice está na casa dos 85 mil pontos. Se depender das impressões do mercado, o presidente eleito Bolsonaro terá vida longa. Como diria o pastor Silas Malafaia: “Facada santa”.

Divulgação

Lula preso: a Operação Lava Jato teve um grande momento no dia 4 de abril, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve sua prisão decretada. O petista recebeu pena de 12 anos e 1 mês, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Sua prisão, três dias depois, teve enredo de calvário. A princípio, o juiz federal Sergio Moro havia determinado que o ex-presidente teria de se entregar à Polícia Federal espontaneamente, até às 17h da sexta-feira 6. Mas foi somente na noite do sábado 7, após passar o dia cercado por militantes no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP), que Lula se entregou. No primeiro dia útil após a prisão, a Bolsa caiu mais de 1%, diferentemente do que alguns esperavam. Especialistas analisaram que a detenção de Lula não repercutiu positivamente na Bolsa porque sua prisão já estava precificada pelo mercado.

MIGUEL SCHINCARIOL

Greve dos caminhoneiros: foram 11 dias de paralisações e manifestações de motoristas e empresas de transporte rodoviário de cargas, entre maio e junho. O estopim foi a flutuação nos preços dos combustíveis e a queda de receita dos caminhoneiros e empresas. Mais de 500 trechos de rodovias foram bloqueados. Houve um estado de surto momentâneo devido à falta de combustível. O transporte público teve sua frota reduzida, hospitais suspenderam procedimentos e supermercados limitaram as compras dos clientes. Segundo o Ministério da Fazenda, o prejuízo ao País foi de quase R$ 16 bilhões. O movimento gerou a maior crise política do governo Michel Temer, desde que o presidente conseguiu se livrar no Congresso das acusações feitas no âmbito das delações da JBS. Pedro Parente, que presidia a Petrobras, foi afastado do cargo.

Guerras comerciais são boas e fáceis de ganhar –Donald Trump, presidente dos Estados Unidos

NICOLAS ASFOURI

Quem pode mais: a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China preocupou mercados financeiros de todo
o mundo. O país asiático, acusado repetidas vezes de não ser uma economia totalmente aberta, sentiu a fúria do presidente americano Donald Trump. A proposta do governo republicano era reduzir o déficit da balança comercial com a China, que chegou ao recorde anual de US$ 375 bilhões em 2017. Em março, os Estados Unidos colocaram taxas sobre aço e alumínio de vários países e lançaram tarifas de US$ 50 bilhões sobre os produtos chineses. Em resposta, a China impôs, no início de abril, tarifas de 25% sobre produtos americanos. A partir daí, houve ações e retaliações de ambos os lados. Mas este mês, no encontro do G20, em Buenos Aires, Trump e o presidente chinês, Xi Jinping, costuraram o que pode ser o início de um cessar-fogo. Na ocasião, Trump se comprometeu a não elevar mais em janeiro a alíquota de importação de 10% a 25% sobre
US$ 200 bilhões de produtos chineses. Novos capítulos dessa guerra de gigantes serão vistos em 2019.