No hiato de uma semana, desde que o governo confirmou formalmente que vai furar o teto de gastos para atender aos seus planos eleitoreiros, os indicadores econômicos deram um mergulho, sem precedentes, rumo ao fosso. Praticamente todas as instituições financeiras reviram para baixo suas projeções de crescimento econômico e começaram a falar efetivamente em recessão a partir de 2022. As menos pessimistas situam a sua avaliação do PIB na faixa de crescimento zero. O câmbio, maior sinal de desconfiança externa em relação aos fundamentos de estabilidade do País, perdeu as estribeiras. O dólar chegou a ser cotado perto de R$ 6 e muitos acham que, em breve, pelo toada, vai quebrar também essa barreira. Não há novo argumento de Paulo Guedes que consiga segurar essa debandada. Os pregões da Bolsa sentem com quedas consecutivas. A inflação, já em patamar assustador, rememorando os piores tempos de preços descontrolados, bateu em outubro a assustadora marca de 1,20% no mês – o pior registro para o período desde 1995. Em outras palavras, estamos recuando quase 30 anos no combate a esse monstro. E não há outro remédio: teve início a temporada de juros altos, e rapidamente, que devem subir em doses cavalares. Analistas defendem que as remarcações da Selic ocorram daqui para frente ao ritmo de 2% a cada mexida. A consequência na ponta do tomador é o encarecimento no crédito, que mexe com o endividamento, tolhe financiamentos e, por tabela, projetos de expansão. Tudo carregado no lombo do populismo barato. A alegação oficial para tamanho desmantelo: é preciso atender às carências da população de baixa renda e, assim, ele tem de recorrer a um orçamento extraordinário, de crise. Até as pedras no entorno do Palácio do Planalto sabem que a preocupação com os pobres não é exatamente o que move essa turma. O programa assistencial – com validade de apenas um ano – traz traços inegáveis de uma muleta para angariar votos. Simples assim. Caso pretendesse mesmo adotar um projeto social estruturado, com verba já contratada e prevista, o governo tiraria das imorais emendas parlamentares que, nos últimos tempos, bateram recorde para agradar a ala de partidos aliados. Ali existe dinheiro de sobra para realocação. Na ponta do lápis o Executivo vai torrar com a brincadeira cerca de R$ 83 bilhões, sendo R$ 30 bilhões fora do teto. Ainda fala em outras benesses programadas, como a de um vale diesel para caminhoneiros, que acalmaria a ira da categoria. Não existe mesmo limite para gastar quando o que está em jogo é a campanha do capitão. Um cipoal de práticas equivocadas vai dando ao País contornos da quebra iminente de caixa do setor público. Muitos começam a falar que o Brasil de amanhã será a Argentina de hoje, alquebrada por uma crise sistêmica. Mas, na verdade, o País corre o risco de pular essa etapa e virar logo uma Venezuela, sem eira nem beira.

Carlos José Marques, diretor editorial