As meias e botinas nas fotos abaixo são do caçador de vinhos Vicente Jorge, 55 anos. Sua atividade profissional consiste em procurar, provar, analisar e comprar rótulos para importadoras. Já visitou 1,2 mil vinícolas em 30 países. E, claro, sendo pago por isso. Pelas suas contas, passam de 100 as marcas que trouxe ao Brasil. O conhecimento acumulado ao longo de três décadas rendeu condecorações como o título de Comendador da Commanderie du Bontemps (Bordeaux), o de Cavaleiro dos vinhos do Porto (Portugal) e o de Confrade de Honra de Ribeira del Duero (Espanha). Um currículo que permite sugerir ajustes em determinados rótulos — nem sempre aceitas, é claro. Para ele, todo vinho precisa “contar uma história”, mas também agradar o consumidor dentro de sua faixa de preço. E é aí que a figura do caçador dá lugar à de consultor. “Muitos produtores têm uma visão equivocada do que podem fazer de melhor. Erram no blend, no uso de madeira, no desenho do rótulo”, afirmou à DINHEIRO. Em alguns casos, suas recomendações vão além de meras correções. Foi o que ocorreu com o espanhol Toro Loco, um dos grandes cases de sucesso em sua categoria no Brasil. Antes restrito a apenas um tinto com a uva Tempranillo, a marca tem hoje branco, rosé, cava (espumante) e até azeite. Foi Jorge quem convenceu o produtor a ampliar o portfólio.

Apaixonado pelos estilo de Bordeaux, na Franca, escolheu a região para iniciar sua carreira de produtor. Em parceria com Manu Bradão, companheiro de caçadas, criou a linha Enclos du Wine Hunter, formada por cinco rótulos, incluindo um Grand Cru. A produção anual gira em torno de 14 mil garrafas, a preços entre R$ 70 e R$ 280, agora vendidas pela importadora curitibana All Wine. E a linha já extrapolou o terroir onde nasceu. Atualmente, a marca tem produtores parceiros por África do Sul, Espanha e Chile ­— caso da prestigiada vinícola VIK.

Há um ano caçando rótulos para a loja virtual TodoVino (da importadora Interfood, a mesma em que iniciou sua carreira), ele agora quer se concentrar em uma seleção de poucos rótulos, para não vulgarizar a bebida. E para quem quer ser se iniciar nas caçadas, um conselho: “A palavra que define esse ofício é relacionamento. Não basta ser um excelente sommelier, é preciso estar bem informado sobre o panorama global, especialmente do país que estiver visitando”. Feche ou não um acordo com a vinícola, ele leva sempre um “troféu de caça”: uma selfie pouco usual, em que o rosto dá lugar aos pés, calçados com meias divertidas. “A brincadeira cresceu ao ponto de alguns produtores me presentearem com pares delas.”