Adotando a mesma estratégia do presidente americano Donald Trump, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, utilizou sua conta no Twitter para anunciar sua filiação ao MDB. Na terça-feira 27, o perfil oficial do partido replicou a mensagem sobre a migração, que será oficializada em 3 de abril. “É nosso desafio aprofundar as mudanças que tiraram o Brasil da pior crise de nossa história”, disse Meirelles na rede social. No entanto, a definição sobre quem vai representar a sigla em outubro vai demorar alguns capítulos. O presidente da República, Michel Temer, afirmou à ISTOÉ que deve concorrer à reeleição. Nesse cenário, Meirelles pode ser seu vice em uma chapa puro-sangue. Ou esperar que Temer desista.

Desde que o seu nome passou a ser ventilado em eventos empresariais, no ano passado, o alvo de Meirelles tem sido o gabinete presidencial do Palácio do Planalto. Em diversas oportunidades, o ministro da Fazenda, que deixará o cargo até o dia 7 de abril, reiterou que não pretendia ser candidato a vice. Filiado ao PSD, partido do ministro das Comunicações, Gilberto Kassab, Meirelles buscava uma sigla maior na qual pudesse ser a cabeça da chapa. Encontrou no MDB (já havia sido filiado ao antigo PMDB) uma acolhida, mas jamais a garantia de que será o candidato. “Eu e o presidente [Temer] estamos conversando bastante”, afirmou Meirelles na quarta-feira 28, em Recife. “Não há desgaste [entre os dois].”

Apesar da baixa popularidade, Temer está disposto a enfrentar uma campanha eleitoral para defender a sua imagem e o seu legado. No entanto, não deixa de elogiar o seu ministro da Fazenda. “[Meirelles] pode ocupar qualquer função no País, não tenho dúvida disso”, afirmou Temer, na segunda-feira 26, em São Paulo. Isso pode indicar que, caso o presidente desista da candidatura, Meirelles estará pronto para assumir o volante. “Discordo. Acho que o Meirelles não seria nem o plano B. Seria o C. O plano A é o Temer e o B seria o MDB apoiar alguém de outro partido, como tendem a fazer. E só aí vem o seu nome”, afirma Lucas de Aragão, sócio da consultoria política Arko Advice.

O MDB lançou candidato próprio pela última vez em 1994. Alguns analistas desconfiam que o nome de Temer está sendo lançado agora como forma de manter seu poder político e a base sob controle.“Nenhum candidato do partido é competitivo, todos têm índices de popularidade baixíssimos”, diz Alessandra Ribeiro, diretora de Macroeconomia e Política da Tendências Consultoria. De acordo com pesquisa Datafolha, Temer e Meirelles têm, cada um, no melhor dos cenários, 1% e 2% das intenções de voto, respectivamente.

Nascido em 1945, em Anápolis (GO), Meirelles é de uma família com trajetória política. Seu avô materno foi prefeito da cidade três vezes, seu tio vice-governador de Goiás e dois primos foram eleitos deputados federais. Após uma carreira de quase trinta anos no BankBoston, onde se tornou presidente global, Meirelles foi eleito o deputado federal Goiás, em 2002, pelo PSDB. Antes de assumir a cadeira na Câmara, aceitou o convite do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva para chefiar o Banco Central. Considerado “homem do mercado”, deu credibilidade à equipe financeira do petista.

Filiou-se ao então PMDB pela primeira vez, em 2009, com a ambição de disputar a sucessão de Lula. Mas foi convidado pessoalmente pelo então presidente para ser vice de Dilma Rousseff, em uma parceria similar a que o próprio petista teve com o seu vice, José Alencar. Um tinha o clamor popular e o outro, o aval do mercado. Meirelles não quis participar. Mais tarde, em março de 2012, assumiu a presidência do conselho consultivo da J&F e tornou-se membro do Conselho de Administração da Azul Linhas Aéreas. Em maio do mesmo ano, se filiou ao PSD, e, em 2014, foi convidado pelo tucano Aécio Neves para ser seu vice, em um movimento que uniria PSD e PSDB. De novo, recusou.

A volta à vida pública se deu somente em 2016, quando Temer assumiu a presidência da República e convidou Meirelles para assumir o Ministério da Fazenda. A missão era resgatar o País da maior crise econômica de sua história. O PIB cresceu 1% em 2017 após dois anos de recessão, a confiança dos empresários aumentou, mas ainda há muito trabalho a ser feito na área fiscal. É justamente a bandeira das reformas e da geração de empregos que o ministro pretende empunhar na campanha eleitoral, embora o seu verdadeiro desafio seja ganhar notoriedade. Somente se as pesquisas mostrarem que o nome de Meirelles é mais viável do que o do presidente Temer, isso pode sensibilizar o MDB a colocá-lo na cabeça de chapa. “Ocorre que a candidatura não depende só dele e de suas qualidades”, afirma Aragão. “Uma candidatura se cristaliza somente com o apoio de um partido unido e de um clamor popular – coisas que ele ainda não tem.”


Governo na mira da Polícia Federal

Após dois pedidos de investigação barrados pelo Congresso, o presidente Michel Temer enfrenta um novo impasse com a Justiça, o que pode dificultar sua candidatura à reeleição. Na quinta-feira 29, dois amigos do presidente e outras quatro pessoas foram presos em uma ação da Polícia Federal (PF) que investiga irregularidades no Decreto dos Portos, de 2017. Segundo a PF, Temer teria beneficiado a empresa Rodrimar, que atua no porto de Santos, em troca de propinas.

Foram presos José Yunes, ex-assessor especial do presidente; João Batista Lima, ex-coronel da Polícia Militar de São Paulo e amigo de Temer; Wagner Rossi, ex-ministro da Agricultura; Milton Ortolan, seu auxiliar; Antônio Celso Greco, dono da Rodrimar; e Celina Torrealba, uma das donas do grupo Libra, que opera em Santos. As prisões foram pedidas pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e autorizadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso. Todos foram levados à sede da PF, em Brasília, para depoimento. No início do mês, Barroso havia pedido a quebra do sigilo bancário do presidente.

No dia das prisões, Temer continuou sua agenda normalmente, viajando para inaugurar o aeroporto de Vitória (ES), ao lado do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Ele não comentou as prisões no evento. Em entrevista exclusiva à ISTOÉ, havia afirmado que “nunca recebeu dinheiro da Rodrimar.” Em Florianópolis (SC), Carlos Marun, ministro da Articulação Política, disse que a operação “não enfraquece o governo porque Temer não tem nada a ver com isso”. A defesa de Yunes, que renunciou o cargo de assessor em dezembro de 2016, logo que as acusações vieram à tona, afirmou que a prisão é “inaceitável.” Temer e Yunes sempre estiveram próximos durante toda a carreira política do presidente.