Não foi a primeira vez, mas a pergunta que torcedores, patrocinadores e esportistas se fazem é: será a última? Quando o piloto Felipe Massa recebeu a ordem e abriu passagem para o companheiro de equipe, o espanhol Fernando Alonso, assumir a liderança do Grande Prêmio de Hockenheim, na Alemanha, no domingo 25 de julho, a imagem que veio à memória dos milhões de fãs de automobilismo foi a manobra praticada pela mesma Ferrari com Rubens Barrichello e Michael Schumacher, em 2002. 

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Final infeliz? Manobra que deu a vitória a Alonso (acima) rendeu multa de US$ 100 mil à Ferrari.
Massa não conseguiu esconder a vergonha

 

E a perplexidade com a cena de Massa abrindo, placidamente, passagem para Alonso pode ser comparável à revelação de que Nelsinho Piquet, hoje banido da categoria, bateu seu carro propositalmente no GP de Cingapura para beneficiar o companheiro de equipe – curiosamente, o mesmo Fernando Alonso que “venceu” a prova. 

 

A celeuma foi instantânea e a federação que regula o esporte, a FIA, tratou de multar a equipe em irrisórios US$ 100 mil, cerca de R$ 178 mil – uma ninharia diante dos US$ 3,9 bilhões movimentados pelo esporte todos os anos. Não foi o suficiente e uma reunião extraordinária que acontecerá em setembro pode anular a pontuação da dupla ferrarista na prova da Alemanha. 

 

Será o bastante para reparar os estragos na imagem da Fórmula 1? E como ficam a marca Ferrari e a imagem dos pilotos envolvidos? “Ainda é cedo para avaliar os estragos econômicos desse tipo de atitude, mas é claro que  ela deixa patrocinadores e anunciantes ressabiados. Ninguém vai querer associar sua marca a um esportista que não lutou pelo primeiro lugar”, avalia Flávio Conti, diretor-geral da agência de publicidade DPZ. 

 

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Momento de decisão: a equipe ordena que Massa deixe Alonso assumir a ponta 

 

A Fórmula 1 não pode se dar o luxo de ver mais uma derrapada com passividade. Nos últimos anos, a categoria perdeu 85 milhões de euros em patrocínios – queda referente à saída de empresas como Mutua Madrilena, Royal Bank of Scotland, ING e Panasonic. Outro exemplo emblemático dessa crise foi a saída da Honda, em 2009, cujo espólio foi adquirida por uma libra pelo britânico Ross Brown. 

 

Sem citar números de audiência, o diretor-geral de comercialização da Rede Globo, Willy Haas, diz que os incidentes envolvendo troca de posição nas pistas ou mesmo o episódio ainda mais grave com Nelsinho Piquet, não afetará os negócios em torno do esporte – nem do ponto de vista comercial nem da audiência. Não é o que parece. 

 

Depois do GP da Alemanha e da manobra da Ferrari, as redes sociais na internet deram um bom panorama de como a torcida reagiu – e a maioria não gostou do que viu. Não faltaram protestos em blogs e no Twitter e anúncio de gente disposta a deixar o esporte de lado. 

 

Isso pode ser desastroso para a Rede Globo, detentora dos direitos de transmissão exclusiva da Fórmula 1 no Brasil. No ano passado, Petrobras, Schincariol, Santander, Renault e Mastercard, as cinco empresas que compraram cotas de transmissão, pagaram R$ 56,3 milhões cada uma. 

 

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Se ficaram felizes ou não com a crise de credibilidade que parece pairar sobre a categoria, os patrocinadores preferem não dizer. O banco Santanter, que pagou 200 milhões de euros para patrocinar a escuderia italiana por um período de cinco anos, limitou-se a emitir comunicado de uma linha e meia no qual diz: “Patrocinamos a Ferrari e não temos nenhum tipo de ingerência nos assuntos e orientações da escuderia.” 

 

Para o consultor de marketing esportivo César Gualdani, atitudes pouco desportivas como as que vêm acontecendo na F-1 têm impacto geral. “Tanto para as emissoras que compram os direitos de transmissão em todo o mundo como para os patrocinadores. 

 

Não estou dizendo que haverá fuga de anunciantes, mas é claro que eles já estão de olho nessas atitudes pouco éticas”, diz Gualdani. Já para o diretor de inteligência de mercado da agência de publicidade Y&R, César Ortiz, perde mais a Ferrari por deixar de lado a competição, que é a essência do esporte. “A escuderia não cometeu uma fraude. Ela diz que é uma estratégia. Ok. Mas não é isso que nos faz acordar cedo aos domingos pela manhã.”