A pandemia do novo coronavírus fez com que diversas empresas acelerassem seus projetos de transformação digital. Com a quarentena e o isolamento social, a internet se tornou vital para a sobrevivência dos negócios. Esta é a avaliação de Edenize Maron, gerente geral Latam da Rimini Street, companhia global que oferece suporte alternativo aos softwares organizacionais, principalmente das marcas Oracle e SAP. Para ela, o cenário atual será um catalisador para que as empresas mergulhem de vez no digital.

Edenize entende que a pandemia da Covid-19 fez com que várias companhias revisassem seus projetos de digitalização de operações. Se antes a conclusão desses processos era prevista para até três anos, hoje os modelos apontam para meses. E no Brasil não será diferente, tendo em vista que ninguém quer colocar o próprio negócio em risco, destaca a gerente.

A executiva, de uma empresa que atende mundialmente 2 mil clientes, sendo cerca de 100 contratos no Brasil, diz que a mudança de mentalidade forçada, pela crise, é o ponto chave para essa transição. Acompanhe os principais trechos da entrevista de Edenize para a IstoÉ Dinheiro abaixo e a entrevista completa, em vídeo, no final do texto.

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Esse momento de pandemia vai acelerar a transformação digital das empresas?

Nós entramos nessa crise em desvantagem, apesar de as empresas estarem investindo na transformação digital. Começamos esse momento com fragilidade. Poucas companhias estavam devidamente preparadas para isso, desde o ponto de infraestrutura de home office, um conceito que nós estamos atrasados, a como se relacionar, vender e entregar pela a internet.

Do ponto de vista tecnológico, nós estamos em uma situação desafiadora. As empresas estão em um esforço descomunal de preservar caixa, gastar com o que é estritamente necessário, e ao mesmo tempo fomentar as vendas com os canais existentes.

Acho que é fundamental que as empresas se envolvam na discussão com a área de tecnologia, para em conjunto promover mudanças radicais. Com isso, eu acredito que a crise vai funcionar como um agente catalisador. Vai acelerar o processo de adoção de novas tecnologias e novas formas de fazer negócio.

Já é possível perceber um movimento nessa direção?

Talvez não seja tão visível porque o primeiro mês foi consumido, em termos de atenção dos executivos de tecnologia, para estruturar o mínimo para que a operação não pare. Vários executivos estavam buscando elementos para que se pudesse trabalhar de casa.

Agora, a gente percebe um esforço de se revisitar o que está sendo feito na área de tecnologia. A gente já observa um movimento de se derrubar custos, para tentar se manter nesse momento. Aquele projeto de transformação digital que se esperava executar em 2 ou 3 anos, agora terá que ser feito em meses por uma questão de sobrevivência.

Tenho certeza que a maioria dos grandes grupos do Brasil irão atravessar esse momento. Tomar as decisões necessárias e fazer as coisas rapidamente será fundamental para não colocar o negócio em risco.

Quais empresas sofrerão mais com esse momento se não olharem para o digital?

Naturalmente, o varejo, por ser B2C (empresa para o consumidor final, na sigla em inglês), está sofrendo, já que as lojas não podem ser abertas. Mas o setor também depende de insumos que são fabricados na China, por exemplo, ou de produtos da Itália e França. Então, essa crise trouxe à tona a dificuldade de não poder abrir a loja, mas também na aquisição dos produtos comercializados. Acredito que essa crise vai levar diversos setores a repensar a sua política de exportação, por exemplo. Não é simplesmente o fato de vender, mas tudo o que engloba essa operação.

Um segundo ponto é que vai ocorrer um avanço importante na aquisição através da internet. As pessoas estão experimentando isso durante a pandemia e certamente esse comportamento vai se perpetuar. É bom ressaltar que o problema mundial deste setor é o custo da entrega. As empresas também precisam lidar com isso.

Qual é o ponto principal para realizar essa transição?

Mudança de mentalidade. A mudança de mentalidade é facilitada quando tem uma crise. Quando você está na zona de conforto acaba não se esforçando tanto para pensar de forma diferente e rápida.

Acho que são duas questões: querer fazer o que há de melhor para a transformação do negócio e ter que ser muito rápido. Esse trauma de um dia para o outro o dinheiro deixar de entrar no caixa é forte e ajuda os executivos a mudar a mentalidade e o status quo.

A gente consome muita tecnologia, mas emprega muito mal. Nós falamos há anos de compras pela internet, mas vemos como ainda são frágeis os portais. Não há mais espaço para depender das lojas físicas, isso vai levar a empresa a pensar nas decisões difíceis.

Como é esse momento para as pequenas empresas?

A crise deixa as pequenas empresas em uma situação complicada. Muitas acabaram adotando tecnologias muito caras e além do que realmente era necessário.

Geralmente essas empresas têm uma estrutura de TI muito modesta e, muitas vezes, essa equipe mais enxuta está manuseando sistemas bastantes complexos.

Essas empresas com condições ou recursos mais limitados precisam de um esforço para simplificação. Isso pode ajudar a superar esse período de crise.